Eu sou um livro. Daqueles nada atrativos: a capa sem sal e sem figuras, o conteúdo chato e cheio de palavras difíceis. Sou daqueles livros que ninguém está disposto a ler, só fica lá na estante, fazendo número. Um livro que nem as crianças se interessam porque, além de o conteúdo não agradar, não tem figuras. Um livro cujo autor acreditava que poderia atingir as pessoas, mas ninguém deu importância. Um livro cheio de palavras por dentro, muita coisa a dizer mas ninguém está disposto a escutar. Sou um livro cheio de pensamentos e certezas carregadas de dúvidas, mas tudo sem valor. Sou aquele livro grosso e pesado que ninguém quer carregar na mochila. Sou o livro que a pessoa vai direto pro final por não aguentar o enredo cansativo. Sou um livro com dedicatória para ninguém. Sou o livro que as pessoas param de ler já no prefácio. Sou o livro criticado pelos leitores que não o leram. Sou o livro que nenhuma editora quer publicar. Sou o livro que espera meses nas prateleiras das livrarias pra ser vendido, mas só vende quando está na promoção. Sou um livro escrito com amor, mas amor não é o suficiente. Eu sou um livro desinteressante, mas, um livro.
