Este é um dos textos mais pessoais que já publiquei aqui (quiçá o mais), primeiramente porque escrevo em primeira pessoa e, naturalmente, sobre a minha pessoa. Chega um momento da graduação que ou você se encontra, ou você se perde, ou, na pior das hipóteses, você empaca e não consegue sair do lugar. É a pior das hipóteses porque ao menos quando você se perde há a possibilidade de descobrir novos caminhos, mas quando empaca, você fica infeliz e se afoga cada vez mais na infelicidade de não ter se encontrado. Pois bem, este texto não é sobre isso. As palavras que aqui vos falo expressam exatamente o contrário: esta é a história de alguém que sente que se encontrou.
Há
quem diga que a graduação é um terror, mas aqui eu digo exatamente o contrário:
a graduação não é o tempo suficiente para fazer tudo o que é possível fazer
enquanto graduando. Quanto mais perto do fim, mais coisas você quer fazer e
menos tempo você tem. Ao longo dos semestres na faculdade a ficha foi caindo
sobre isso. Eventualmente, a gente reclama sobre o cansaço, as provas e que tudo
está difícil (às vezes, beirando o impossível), mas ao mesmo tempo se apaixona
pela vida acadêmica. O fato é que o tempo e a maturidade nos fazem perceber que
há muito o que se fazer e que é necessário, sim, acordar todos os dias com
vontade de fazer melhor do que fizemos ontem.
A
petição inicial foi ajuizada quando passei no vestibular e a etapa de
conhecimento ocorre durante toda a graduação. Hoje, no 8º, vejo que estes
últimos semestres são a audiência de instrução e julgamento, etapa do processo
em que produzo certo tipo de prova (ou faço provas, muitas) para que seja
prolatada a sentença: o meu diploma de bacharel em Direito. Sentença esta que
transitará em julgado e passaremos à etapa de seu cumprimento, que ocorrerá
voluntariamente.
Mas
talvez este texto sobre mim também seja para você, que ainda não se encontrou
plenamente. Pegarei emprestada uma metáfora de Hart sobre a aplicação das
regras, mas que fique claro que utilizarei a metáfora de Hart metaforicamente:
uma metáfora da metáfora. Ou seja, não cobre conceitos filosóficos por aqui,
por gentileza.
Hart
faz uma analogia entre como funciona uma regra e como funciona um foco de luz,
mas você não precisa saber disso, porque eu utilizarei a metáfora de Hart de
outra maneira que nada tem a ver com regras.
Imagine
uma lanterna apontada para uma parede no escuro. O local para onde a lanterna
aponta pode ser visto com clareza. Esta é a zona de foco e representa os estudantes
que sentem que se encontraram no curso e estão felizes e satisfeitos por
estarem onde estão e não duvidam do que querem. É claro, certeiro, fácil de
visualizar.
Entrementes,
olhando novamente para onde aponta a lanterna, quanto mais você afastar o foco
da luz, será formado um aro escuro, onde se vê cada vez com menos clareza o que
está lá: esta é a zona de penumbra, onde estão os alunos que ainda não se
encontraram em seus cursos (seja no Direito ou em qualquer outro). A zona de
penumbra é uma zona de incerteza. Você não sabe necessariamente porque está
ali, porque escolheu estar ali, se quer continuar ali... está inebriado de
dúvidas e pode chegar a diversas decisões.
Se
você ainda está perdido, você tem duas opções: ou você tenta aproximar um pouco
mais a lanterna da parede para que a zona de foco apareça, isto é, procurando
atividades, mergulhando no universo que é a graduação, tentando um estágio
novo, quem sabe? Você ainda pode se encontrar onde está. Entretanto, se você
acha que está na zona de penumbra (isto é, a luz se esvaiu do foco em
decorrência da distância entre a lanterna e a parede), nada impede que você
aponte a lanterna para outro lugar e, quem sabe, encontre uma parede mais
próxima e, consequentemente, a sua zona de foco.
Este
emaranhado de palavras e ideias mesclam um desabafo de gratidão por eu sentir
que estou exatamente onde deveria estar (na zona de foco) e conselhos (que
ninguém pediu) para quem acha que não está no lugar certo. Sempre haverá uma
parede um pouco mais próxima em que você poderá se encontrar. Desculpe, Hart,
se isso foi heresia, mas é que aqui eu faço poesia.
