Um
não, vários! Tenho uma quantidade tão imensa de sonhos que sequer consigo
administrar qual vou realizar primeiro. Todos os meus sonhos estão casados uns
com os outros, de uma maneira ou de outra, o problema é coloca-los em fila
indiana para realizar um de cada vez. De vez em quando, enquanto trabalho na
realização de um, o outro enfia o nariz no meio e tenta furar a fila.
O
grande problema é que não sei se sou suficiente para mim mesma, se todos os “eus”
que construo todos os dias cabem nesta mocinha de vinte e poucos anos que luta
diariamente para conquistar seu lugar no mundo e, ao deitar a cabeça no
travesseiro, tem o péssimo hábito de engolir o choro pela angústia de não saber
se vai chegar lá (e ela nem sabe onde fica este “lá”).
Em
um ano de tantas tomadas de decisões, de tantos momentos de pressão e trabalho
árduo, manter a calma e dormir acaba ficando sempre em segundo (terceiro,
quarto, quinto...) lugar na vida de quem não quer parar de planejar e (tentar) semear
coisas boas para si.
Só
que as sementes têm o tempo da natureza para germinar, crescer e frutificar, e é
exatamente isto que os imediatistas e ansiosos custam a entender (e eu assino o
número um na lista de frequência destes).
Vez
ou outra, chego a implorar mentalmente por um spoiler de como serei no futuro, pra saber se algum dia conseguirei
realizar pelo menos a metade dos meus planos escritos no caderninho “sonhos e
metas” (é, eu tenho um caderno para isso). Acontece que se eu soubesse o que ocorrerá
no futuro, talvez desanimasse agora, sem nem saber tudo o que acontece pela
metade do caminho e, a menos que eu tivesse um DeLorean adaptado pelo Doc
Brown, não conseguiria apagar os rastros possivelmente desastrosos de saber
tudo antes do tempo.
O
ponto crucial é que sei para onde quero ir, quiçá eu saiba vagamente como
chegar lá, mas quero viajar a km/s e desesperadamente ver meus planos
acontecerem diante dos meus olhos. Erro grave, eu sei. Diriam meus sábios
mestres: calma, tudo acontece no seu próprio tempo. Um dos meus grandes
defeitos é achar que tenho um Vira-Tempo sem, na realidade, tê-lo.
E
se eu não passar na prova semana que vem? E se eu não estiver onde quero ano
que vem? E se eu não conseguir estar onde planejo daqui a quatro anos? E se, e
se, e se? São perguntas insuportáveis de uma cabeça que funciona mais rápido do
que meu corpo consegue aguentar e é mais impertinente do que meu psicológico
suporta.
Eu não sei se caibo em mim, não sei se um dia
caberei ou, pior, se um dia me sentirei insuficiente para o que o meu “eu”
jovem de vinte e poucos anos esperava que eu fosse. Só saberei vivendo. Passo a
passo, dia após dia. Lembro que quando eu era adolescente, fazia os mesmos
questionamentos e a minha professora de literatura do Ensino Médio dizia: “calma,
pequena”. Porque, parafraseando uma grande amiga*, eu não quero ser a segunda “Alguém”,
quero ser Debora Vieira, a Primeira de Meu Nome. É ambicioso, talvez soe mal,
mas sonho com toda a humildade do mundo e vontade de construir diariamente o “eu”
que eu quero ser. Ainda que durma tão pouco, sonho muito.
*A amiga que parafraseei se chama Ruanne Ribeiro e escreve lindos textos,
os quais sempre tenho o prazer de ler, quando divulgados.
