quarta-feira, 13 de junho de 2018

Quatro



Já é Copa do Mundo outra vez, o tempo passou tão rápido que nem parece que faz tanto tempo que eu apostei que o Neymar faria o primeiro gol da Copa de 2014 e ganhei. Ganhei a aposta e teu coração, em que pese termos pedido a Copa de lavada. A derrota para a Alemanha em 2014 foi inversamente proporcional ao quanto deu certo o primeiro gol do Neymar, pois cá estamos até hoje, recebendo uma nova Copa, vibrando pelo Hexa.
Em quatro anos de mergulhos profundos na queda livre que é o primeiro amor maduro, aprendemos mais sobre a primeira e a terceira pessoas do singular. Nós, como pronome pessoal reto e como substantivo. Nós que atamos ao longo desses quatro anos vividos juntos.
A criação dos mais diversos modelos de utilidade nessa (re)invenção que é compartilhar a vida com você. Ir sempre ao mesmo restaurante e pedir o mesmo hambúrguer com cebola crispy e batata canoa e nunca enjoar, porque cada dia escrevemos um parágrafo diferente da nossa história (e esta frase é deveras clichê, admito).
O amor é clichê. A temperança de viver um amor tranquilo é perfeitamente concretizada no seu abraço ao deitar com a cabeça no travesseiro antes de dormir e contar todas as histórias que vivemos no dia, ao saber que você chegou em casa pelo jeito que você faz barulho subindo as escadas ou, até mesmo, ao instigar seu sonambulismo só pra contar o que você disse no dia seguinte e a gente dar boas risadas de nós mesmos. O amor clichê é gostosinho como um suco de laranja doce, porque milkshake demais enjoa e suco de limão sem açúcar requer um certo esforço.
Depois de quatro anos, eu já mudei de cabelo mil vezes e você nunca usou all star, você já comeu uvas e eu continuo odiando tomate, eu aceitei o fato de que você é um metaleiro que gosta de Ivete Sangalo e você aceitou o fato de que eu gosto de um pagodinho só para variar a playlist habitual do Djavan, você não usa mais aquela blusa que eu odeio listrada com branco e eu evito tomara-que-caia porque você não curte, você ainda não leu a saga Harry Potter e eu continuo me atrapalhando pra conversar em inglês, mas a gente continua falando palavrão, apesar de ter tentado parar várias vezes. Algumas coisas mudam, outras não, o que é bom para saber quem somos agora sem esquecer quem éramos ontem.
Eu tenho sorte por ter encontrado nos seus olhos o verde mais bonito que já vi, perfeitamente enquadrados pela moldura preta dos seus óculos que escolhi. A gente é o perfeito casal que dá certo de primeira na comédia romântica, o que faz com que o filme seja sem graça e doce demais, mas que encaixa perfeitamente com a nossa história, porque arrisco dizer que somos a Lily Aldrin e o Marshall Eriksen da vida real.
O nosso amor é tão concreto que o “eu lírico” desta prosa é assumidamente eu, aqui, ouvindo sua respiração ao dormir, pensando que já são 5h30 da manhã e nós temos que acordar daqui a pouquinho. O ponto é que acredito que a data comemorativa merece seu registro no meu santuário, e meu santuário é aqui. O Hexa eu não sei se vem, mas o nosso amor vai bem.