segunda-feira, 2 de julho de 2018

Momento



Nós temos o costume de viver com pressa, desesperados para alcançar lugares cada vez mais altos em um tempo cada vez menor, surtados em atingir metas que talvez não caibam em nossas realidades, agoniados em realizar nossos sonhos sem sequer dormir. O ponto é que, caso não alcancemos os nossos objetivos no tempo que determinamos, tendemos a nos julgar insuficientes para eles e deixamos de acreditar em nosso potencial, tão instantaneamente quanto acreditamos nele antes de fracassar.
O fracasso é inerente ao crescimento, porque com ele aprendemos o quê e onde podemos melhorar para, enfim, alcançar nossos sonhos. O grande problema é que convivemos com a instantaneidade de vidas constantemente felizes exibidas no Instagram e no Facebook, mural dos méritos e conquistas medidas por likes, de modo que esquecemos que por trás dos @ existem pessoas que choram, fracassam, viram a noite... elas só não contam.
Com isto, tendemos a crer que todos devem alcançar o determinado sonho no determinado momento, porque a vida nunca deixa de ser esse desespero cronometrado em metas exibidas em redes sociais, esquecendo de que o momento de cada pessoa é intrínseco a ela e à sua própria realidade, diferente da minha, da sua, do outro.
Nada disso é uma crítica: é apenas um lembrete (pra mim e pra você). Um lembrete para não desacreditar dos seus sonhos porque o Fulano já conquistou os dele e está em Nova Iorque curtindo as férias, enquanto você continua batalhando pelos mesmos sonhos. Os seus sonhos são seus e o seu momento vai chegar também.
A realidade por trás das lentes dos celulares traz à tona pessoas que, possivelmente, sofreram muito antes de chegar “lá” (e para elas talvez isto ainda não seja “lá”), mas que costumam mostrar só a parte boa, sem as lágrimas, sem os dias sonolentos após as noites não dormidas, sem o medo. Mas a vida real é o que é, e precisamos amarrar um barbante no dedo indicador para lembrar disso sempre, sob pena de surtos de ansiedade constantes.
Alcançar sonhos requer sacrifícios e a medida do sacrifício depende da perspectiva de quem passa por ele. O que todos sempre esquecemos é que cada pessoa tem o seu tempo, a sua resistência, o seu ritmo... o seu momento. A nossa rotina regida por prazos peremptórios nos faz esquecer de que, se não der certo, a gente pode tentar de novo, e de novo, e de novo, até chegar “lá”, onde quer que fique o seu “lá”. Coragem, reseta o videogame, tenta de novo, você vai passar essa fase.