segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Da série: Primeiro amor - 5



Episódio 5

Não houve jeito nem obstáculo, lá estava Sophia beijando o novo moço da escola. Lábios que se entrelaçavam como se tivessem um perfeito encaixe. Suas mãos deslizavam pela cintura de Sophia, e as de Sophi transitavam entre o pescoço e abraços discretos. Em meio a tanto romance, eu ficava completamente pasma e intrigada com a habilidade dos dois de se manterem em cima dos patins de gelo mesmo em meio àquela situação.
Depois da patinação, tínhamos o mais novo casal formado: minha melhor amiga e o rapaz dos cabelos desgrenhados. Não sei se era por mau gosto ou falta de lucidez, enfim, isso pouco importa.
Para os que não sabem, Sophia tinha um endereço na web, uma espécie de conselheira amorosa... brega? Sim, concordo. Ela mantinha aquilo em segredo, ninguém sabia que quem estava por trás do site era ela, nem eu mesma sabia direito, só conseguia pegar por alto e deduzir as coisas. 
Existia a opção de se enviar uma mensagem anônima ou identificada, mas normalmente Sophi recebia anônimos porque as pessoas não são muito fãs da exposição de seus conflitos amorosos. Depois de dias sem receber mensagens, finalmente a caixa de entrada do site da conselheira amorosa apitou. Não havia nada demais escrito, mas uma atenção maior foi dada ao escrito pelo fato de o site ter sido pouco visitado nos últimos dias. A mensagem em questão dizia:
"Amo e não sou amado... sei que você já deve ter lido muitas mensagens dessas aqui, mas realmente não sei mais o que fazer. O meu desconsolo amoroso chegou ao ápice, minha amada arranjou um par, e este não sou eu. Gostaria realmente de receber um conselho, uma ajuda, ou um tapinha nas costas... brincadeira! Hahahaha, bjs"
Sophia gostou do bom humor. Comédia trágica, mas um desconsolo amoroso tratado com comédia é bem melhor do que aquele tratado com barras de chocolate e lágrimas em abundância. Se bem que chocolate sempre vai bem, enfim, vocês entenderam.
Sophia me contou sobre a mensagem recebida, mas já era de noite e o que eu mais queria era dormir para ir à aula no dia seguinte. Aliás, não para ir à aula, e sim para conseguir aguentar aquela cruz chamada colégio. 
No outro dia, Marquinhos veio falar comigo de canto. Com a distância que havia entre ele e Sophi, sobrou quem para ele desabafar? Euzinha. Quer dizer, quando sua melhor amiga é a menina mais cobiçada da escola, e você é amiga dos meninos que gostam dela, pode ter a certeza de que eles vão desabafar com você, falar como ela é linda e maravilhosa e como o seu andar encanta e blá blá blá. Se isso ainda não aconteceu com você, vai acontecer.
Marquito disse que não suportava ver Sophi com o moleque novo, não suportava ver as mãos dos dois dadas, quando na verdade os dedos que deveriam cruzar com os dela deveriam ser os de Marcos. Dizia que queria fazer carinho nos cabelos dela, e poder dizer que sempre a amou e ser correspondido. Até que ele fez uma confissão: ele se sentia invisível para Sophia e como não tinha para onde correr, na sua tarde na internet ele visitou um site de uma conselheira amorosa e mandou uma mensagem para ela, esperando alguma ajuda. Para mim era um caso desvendado, mas para Sophi um enigma estaria por vir. Minha decisão: ficar quietinha e não falar nada para ninguém.
Continua...

Paralelismo



Quero ser eu,
Mas não eu em um só,
Tenho mil ideias, muitas convicções e um milhão de dúvidas
Mas pode ter certeza de que uma coisa eu sou:
Paralelo

Se milhares de fios de cabelo constituem minha cabeça,
Dez dedos minhas mãos,
Duas orelhas, olhos e uma boca,
Além de todas as inúmeras células que constituem meu corpo,
Por que razão eu preciso ser um só?

Não, isso não é uma síndrome de Fernando Pessoa,
E sim uma overdose de mim mesmo
Com gostinho de quero mais

Sei que posso mais,
Sei que espero mais de mim
E sei mais ainda que quero,
Quero (e posso) ser vários "eus"

Não preciso sorrir e virar o sorriso de ponta cabeça para ficar triste
Não preciso ter um único rosto, um único gosto, ser um único eu indivisível
Eu sou eu de trás pra frente, de frente pra trás, do avesso
Sou eu, milhões de "eus"

Posso ser mil coisas paralelas,
Posso fazer de tudo um pouco
E de um pouco tudo,
Para assim fazer com excelência

Posso escrever e desescrever,
Vasculhar o passado para construir o meu futuro
Compor músicas e arruinar melodias
Eu posso ser todo eu em tudo, tudinho

Quero mais paralelos,
Mais oportunidades
E acima de tudo: mais vontade
Vontade de ser eu sem cansar,
Pra não virar o bicho humano,
Sou ser humano.