Mas não eu em um só,
Tenho mil ideias, muitas convicções e um milhão de dúvidas
Mas pode ter certeza de que uma coisa eu sou:
Paralelo
Se milhares de fios de cabelo constituem minha cabeça,
Dez dedos minhas mãos,
Duas orelhas, olhos e uma boca,
Além de todas as inúmeras células que constituem meu corpo,
Por que razão eu preciso ser um só?
Não, isso não é uma síndrome de Fernando Pessoa,
E sim uma overdose de mim mesmo
Com gostinho de quero mais
Sei que posso mais,
Sei que espero mais de mim
E sei mais ainda que quero,
Quero (e posso) ser vários "eus"
Não preciso sorrir e virar o sorriso de ponta cabeça para ficar triste
Não preciso ter um único rosto, um único gosto, ser um único eu indivisível
Eu sou eu de trás pra frente, de frente pra trás, do avesso
Sou eu, milhões de "eus"
Posso ser mil coisas paralelas,
Posso fazer de tudo um pouco
E de um pouco tudo,
Para assim fazer com excelência
Posso escrever e desescrever,
Vasculhar o passado para construir o meu futuro
Compor músicas e arruinar melodias
Eu posso ser todo eu em tudo, tudinho
Quero mais paralelos,
Mais oportunidades
E acima de tudo: mais vontade
Vontade de ser eu sem cansar,
Pra não virar o bicho humano,
Sou ser humano.
