A verdade é que sou só saudade. Só saudade em cada pedacinho do meu coração, em cada canto da minha memória, em cada parte da minha história. Sou só saudade. Só saudade do que passou, do que ficou mas não é mais, do que será e deixará de ser. Só saudade de quem está longe, de quem estará longe e de quem foi embora pra sempre. Só saudade do que eu já fui, do que queria ser e do que penso que serei mas não seguirei em frente. Só saudade dos sonhos perdidos, esquecidos, banidos. Só saudade. Só saudade, em cada pedacinho.
A vida passa depressa, tão depressa que nem percebemos. Vivemos tão ocupados reclamando do presente, que esquecemos que, daqui a dois minutos, sentiremos falta dele. Vivemos enclausurados em nossa jaula de lamentações, que nos passa despercebido o fato de que os que estão ao nosso redor irão embora, seja de trem, ou pra debaixo da terra.
O tempo corre, voa, desliza. Ele foge, foge de quem não quer que ele passe. Foge de quem não o vê passando. Foge de quem torce pra que ele passe logo. O tempo é a água que tentamos segurar com as mãos, o ar que prendemos dentro do pote e a onda que tentamos impedir que volte pro mar.
Viver é acumular perdas e somar memórias, enterrar os que passam e criar novas histórias.Viver é o amor reprimido pela rotina, uma pílula de desespero em meio ao caos. Viver é acordar todos os dias reclamando, mas, nos seus últimos dias, pedir por mais dias para acordar. Viver é não querer ouvir a voz, mas, quando a voz se cala, ser capaz de tudo para ouvi-la outra vez. Viver é sentir o coração apertar de saudade e a angústia subir à garganta no ímpeto de tentar aproveitar ao máximo. Viver é o presente, pois o que foi não é mais. Viver é.

