quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Lápis de cor


Chegou de mansinho
Rabiscando de leve
À lápis grafite
Seu nome no meu coração
De repente pegou uma caixa 
De quarenta e oito cores
Azul, vermelho e verde limão
Coloriu cada cantinho da minha vida
Do meu sentimento
E da minha poesia
Colore todo dia sem cansar 
Desenhos diferentes a me encantar
Colore a minha imaginação
Com o verde água dos teus olhos encantadores
Não lembro mais como era ser eu sem nós
De nada me valem os outros amores
Toca na minha mão canhota e vamos pintar
Você do lado direito e eu do esquerdo
Você e eu desenhamos a nossa história
Nós dois em meio a essa euforia
Embriagados com tanta alegria
Na nossa história de amor a colorir
Obrigada por tudo
O que você me faz sentir

domingo, 23 de novembro de 2014

De malas e cuias


A linha tênue entre o limite e a explosão, entre o silêncio e os berros, entre a raiva e o desprezo. Aquele sentimento provocante que coça a língua e nos provoca a colocar todas as palavras não ditas para fora, mas um pingo (o último) de consciência, obriga a se manter na linha tênue supradita e engolir tudo. As palavras não ditas e o silêncio raivoso velado. Os pensamentos cacofônicos e a vontade de fugir pra longe. A perspectiva de que não há perspectiva e a esperança de, finalmente, ir embora.
Ir embora, embora haja gratidão pelos dias passados e pelos momentos pacientes, pelos sapos engolidos e pela paciência malhada ao longo dos segundos mútuos de fúria no olhar. Ir embora, embora muito tenha ensinado e aprendido sobre como deixar pra lá e como conviver calado. Ir embora, embora não haja perspectiva de melhora e, ademais, saiba que a tendência é somente piorar. Ir embora, embora as fotos antigas nos porta-retratos demonstrem sorriso e carinho. Ir embora, embora o amor exista, mas esteja soterrado por uma camada densa de lágrimas contidas e saturadas. Ir embora, embora tenhamos consciência da diferença exorbitante que há entre todos os presentes na árvore. Ir embora, embora se saiba que há pouco tempo pra aproveitarmos juntos aqui. 
De malas e cuias quase prontas, partimos rumo ao sonho inicial. Domiciliamos a gratidão em nosso peito e prometemos esquecer os momentos cinzas. Saturados uns dos outros, decidimos que é melhor viver e se gostar assim: de longe.

sábado, 15 de novembro de 2014

Fermento


Sem mais nem menos, tive que trocar o all star vermelho pelos sapatos de salto, a mochila verde pelas bolsas de couro, os mini vestidos pelas saias abaixo do joelho combinadas com camisa social e os coletes jeans com taxas pelos blazers. Troquei as noites vendo filme pelas noites conversando com os livros e os dias preguiçosos na cama por dias corridos dentro dos ônibus. De repente, tive que trocar o meu vocabulário e trocar a expressão de quem não sabe onde está pela expressão de quem sabe exatamente o que veio fazer (mesmo que não saiba muito bem). Tive que deixar de lado as indecisões e aprender a tomar atitudes, mesmo que, de início, bem atrapalhadas.
Tive que aprender a abdicar do que eu queria pra fazer algo que eu não queria. Desisti de insistir que a vida começava só após o meio dia e engoli a verdade comum ao mundo da classe média: acorde às seis. Aprendi que maquiagem não é só beleza, é, também, a máscara que esconde as noites mal dormidas e a preguiça de viver. Aprendi que nem todos os dias a gente tem saco pra fazer o que precisa, mas é preciso fazê-lo, porque a vida não espera que você tenha saco. 
Não adianta fingir que existe uma realidade paralela onde tudo é lindo e eu uso coturnos. Não existe. Não existe um mundo onde só tocam as bandas que eu gosto, infelizmente. Não existe sempre alguém pronto pra fazer o que eu deixei de fazer, eu preciso fazê-lo. Nem sempre as pessoas vão estar prontas pra justificativas, talvez eu também não esteja sempre pronta pra justificativas alheias. O trânsito não espera que eu acorde na hora certa pra poder engarrafar, ele engarrafa, eu estando lá ou não. 
Do nada, deixei de ver meus pais três vezes ao dia. Mal os vejo, agora. Deixei de almoçar em família e nem sempre lembro de tudo o que eu tinha pra contar. Encostei todas as minhas roupas pré-fermento e mal tenho oportunidade de usá-las. Larguei um pouco as gírias e engoli os pronomes de tratamento formais. Sou chamada de senhora todos os dias, mesmo sendo apenas senhorita. Tive que aprender a dizer exatamente o que eu quero e lutar por isso, ninguém mais pode fazê-lo por mim.
Disseram que eu tinha que sair das asas dos meus pais e aprender a voar. Todos os dias eu me jogo de algum galho, às vezes, consigo planar, outras, caio no chão. Minhas asas fracas e inexperientes ainda não estão aptas para alçar voo, mas todos os dias eu tento, um dia eu consigo. Será que isso é aquilo que todo mundo fala, como é mesmo o nome... crescer? Sei lá. Opa, talvez.