A linha tênue entre o limite e a explosão, entre o silêncio e os berros, entre a raiva e o desprezo. Aquele sentimento provocante que coça a língua e nos provoca a colocar todas as palavras não ditas para fora, mas um pingo (o último) de consciência, obriga a se manter na linha tênue supradita e engolir tudo. As palavras não ditas e o silêncio raivoso velado. Os pensamentos cacofônicos e a vontade de fugir pra longe. A perspectiva de que não há perspectiva e a esperança de, finalmente, ir embora.
Ir embora, embora haja gratidão pelos dias passados e pelos momentos pacientes, pelos sapos engolidos e pela paciência malhada ao longo dos segundos mútuos de fúria no olhar. Ir embora, embora muito tenha ensinado e aprendido sobre como deixar pra lá e como conviver calado. Ir embora, embora não haja perspectiva de melhora e, ademais, saiba que a tendência é somente piorar. Ir embora, embora as fotos antigas nos porta-retratos demonstrem sorriso e carinho. Ir embora, embora o amor exista, mas esteja soterrado por uma camada densa de lágrimas contidas e saturadas. Ir embora, embora tenhamos consciência da diferença exorbitante que há entre todos os presentes na árvore. Ir embora, embora se saiba que há pouco tempo pra aproveitarmos juntos aqui.
De malas e cuias quase prontas, partimos rumo ao sonho inicial. Domiciliamos a gratidão em nosso peito e prometemos esquecer os momentos cinzas. Saturados uns dos outros, decidimos que é melhor viver e se gostar assim: de longe.
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