quinta-feira, 3 de julho de 2014

Pupilas


Ela saiu do ônibus aos tropeções, correndo para a aula para a qual já estava atrasada e tentando se equilibrar no salto alto que deslizava de seus pés. Agoniada com o calor e a correria, o avistou com os olhos semicerrados tentando enxergar os dizeres dos ônibus que passavam. Como o de costume, ela precisava tirar uma brincadeira com ele. Andou apressadamente e esbarrou de forma impactante em seu ombro direito. Os dois riram e se cumprimentaram, ele pegou seu número de telefone (que, mesmo se conhecendo há um tempo, não o tinha) e ela voltou para o mundo real e para o relógio que a apressava sem piedade. De noite, inusitadamente, ele lhe manda mensagem e, a partir de então, eles se aproximaram e começaram a conversar frequentemente. Depois de um tempo e de muitas manhãs de estudo diletante, eles passaram a fazer parte da vida um do outro. Trocavam mensagens, conversavam sobre o dia-a-dia, se ajudavam no que era possível. 
Mais um dia comum de afazeres cotidianos os aguardava, mais um dia de cansaço e semana de provas, mas eles não sabiam o que o dia os reservava. Em uma praça da cidade, debaixo do sol do quase meio-dia e um calor insuportável, ela olhou para ele e não resistiu às suas pupilas contraídas e seus olhos verdes (e míopes) sob o sol: a troca de olhares e o silêncio ensurdecedor a obrigaram a tascar-lhe um beijo inesperado. Ele riu. Ela olhou para o chão, envergonhada, mas, segura de si, continuou o que havia começado. 
Assim se inicia a história de Leonardo e Marina: a dupla de estudos.
Os dias se passaram e eles continuaram fazendo parte da mesma rotina, cada vez mais infiltrados na vida um do outro. Dias depois, ao chegar na faculdade, ela o avistou com aquela camisa verde de botão, sentado à sua espera. Há muito tempo ela o viu usando a mesma camisa e admirou deveras o quão garboso ele ficou com ela. Fez o mesmo neste dia. Marina ficou impressionada com a sincronia da camisa verde (e sua queda por camisas de botão) com os olhos míopes de Leo. O charme era encantador.
Eles se encontraram e foram ao cinema. A maneira como agiam era estranha para Marina, desacostumada com a ideia de entregar seus sentimentos à um outro alguém, descompromissada com o afeto além das histórias dos livros e dos blogs que lia.Ele, por sua vez, revelava-se cada vez mais envolvente. Rapidamente, os dois pisaram na areia movediça que são os sentimentos. 
Depois do filme, sentados no sofá do shopping, ela o mandava ir embora, dizia que ele precisava voltar a estudar. Preso pelas correntes da procrastinação, ele adiava a partida a cada minuto. Ele a abraçava e ela (mesmo querendo o contrário) dizia que ele realmente precisava ir. Eles estavam com os rostos bem próximos, ele a encarava com seus olhos míopes e suas mãos no pescoço dela, quando disse:
- Você é tão linda de perto, que é de onde eu consigo te ver direito.
Marina olhou para seus pés e riu, realmente não esperava um elogio naquele momento.
Com os olhos fixos e distantes, os olhos verdes de Leo e suas pupilas dilatadas (e enormes [e hipnotizantes]) fizeram com que Marina ficasse encafifada:
- O que se passa por essa cabeça, hein? - perguntou ela, curiosa e descontraída. Ele disse:
- Provas, notas, Marina, Marina, Marina...
Nesse momento, virou o rosto para perto do dela e completou:
- Acho que estou me apaixonando.
Ela ficou estarrecida, pelo visto, ele adorava surpreendê-la com palavras inesperadas. Marina ficou sem reação, mas, quando voltou à realidade, de súbito, ela o beijou e eles engrenaram em beijos sucessivos. Por meio deles, ela esperava dizer: "é, acho que sim".





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