Eu estava à beira do penhasco, na dúvida se pulava ou não. Olhava para o lado oposto ao precipício e via o chão firme, a paisagem concretamente estática e a minha independência com relação a qualquer outro objeto. Porém, o eco do abismo gritava o meu nome. Relutante, eu olhava para baixo e sentia uma atração indescritível. O mistério em meio à neblina do desconhecido versus o chão firme de coisas passageiramente imutáveis.
Olhei para baixo, para trás, para baixo, para trás, para baixo... Tropecei e caí penhasco abaixo.
Primeiramente, a gravidade me empurrou com sua aceleração constante de dez metros por segundo, enquanto meu coração disparava inúmeras vezes e meus olhos foram tomados por uma cegueira branca de um alvo só.
Neguei pra mim mesma que estava caindo. Fingi que ainda pisava em solo. Tentei mostrar para mim e pra o resto do mundo que eu continuava firme, com os pés presos ao chão e imune aos precipícios.
Porém, esse precipício era alto demais e tentador demais. A queda renegada não durou muito e logo assumi que se tratava de uma perdição: a queda livre.
Agora, não consigo parar de sentir essa queda. Sinto o vento correr pela minha epiderme, meus cabelos se digladiarem sem rumo e um frio gelar a espinha. Sinto o impacto da minha vontade insaciável de cair e os batimentos acelerados do meu coração contra o meu peito. Ao mesmo tempo, fico inebriada de deslumbramento ao observar a paisagem verde que me cerca, em contraste com o centro negro do abismo cujo fim desconheço.
Caio sem medo, guarida pela sensação de que é uma queda boa e de que, no fundo do desconhecido, há uma piscina de mashmallows em que cairei para neutralizar o impacto.
Caio sem pensar e sem tentar me segurar. Fecho os olhos, abro os braços, relaxo os músculos e minhas mãos encontram outro par de mãos. Percebi que caio acompanhada de outrem. Nos abraçamos e vamos cair juntos, então. Destemidos, assim é melhor.
