Eu tenho tantos sonhos que
nem sei qual deles seguir, não faço ideia de quantos deles são viáveis e de
quais vou conseguir realizar. Se eu sentar e te contar cada pedacinho das
minhas vontades, você vai me achar louca e rir da minha cara. E quer saber? Eu
concordo com você. Eu também dou risada. Vez ou outra, até desacredito de mim
mesma.
Se eu te pegar pelo braço e
te levar pra conhecer cada cantinho da minha cabeça, você vai querer fugir na
hora. Fazer turismo nas entranhas das minhas confusões é puro delírio e um
convite à insanidade de um lugar que luta pra não ser comprimido pela
realidade. Minhas olheiras são tão profundas quanto minhas inquietações.
Às vezes, aparece alguém com
um martelo, pronto pra mudar a forma dos meus pensamentos. Outros vêm achando que
minhas convicções são como argila e que podem modelar. Eu digo que é até uma
verdade, estou sujeita à mutação, mas não pense que será tão fácil assim.
De vez em quando eu olho no
espelho e penso: que fracasso. Troquei minhas certezas por dúvidas que cutucam
e assanham a cabeça de quem sabe bem o que quer, mesmo sem saber. Entendo muito
do que está fora de mim, mas quase nada do interior.
Digo que sei por onde
seguir, mas sequer aprendi a caminhar. Finjo que sei exatamente o que falar,
mas a verdade é que paira em mim a dúvida de qual é o melhor eu pra cada
situação. Há tantas de mim aqui dentro que fica difícil escolher qual usar, é
como escolher roupa antes de sair tendo um closet
abarrotado.
A cada semana tenho que me
redescobrir e lidar com novas perspectivas que minha cabeça, cheia de euforia,
joga no meu peito esperando que eu dê conta do recado. Até que estou me saindo
bem na tarefa, fora os surtos de choro no chuveiro ou os gritos abafados no
travesseiro. Sou um plural um tanto singular.
Se eu te pegar pela mão e
narrar cada uma de minhas convicções, você vai me achar maluca e me internar.
Mas, quer saber? Maluca eu sou e internada estou dentro de mim mesma. Terapia
de choque é escrever sobre mim e não saber exatamente o que dizer, exatamente
por todos os motivos mencionados outrora: não sei quem sou. Quem sabe eu não
seja real. Vai ver eu sou apenas uma personagem doida de livro, feita para os
outros decifrarem: Capitu traiu ou não Bentinho?


