terça-feira, 5 de maio de 2015

Microscópio


Passei a vida escutando sobre grandeza. Durante a infância, os professores da escola narravam as trajetórias dos grandes nomes da História, outros liam as poesias épicas dos grandes literários, outros tentavam colocar em nossas cabeças as fórmulas dos físicos e suas leis. Por muitos anos escutei os mesmos nomes, portanto, presumi que estes eram dignos da tão falada grandeza.
Ouvi nomes de pessoas influentes serem repetidos incansavelmente nos noticiários. Vivi pra ver homens e mulheres carregarem prêmios, discursarem em rede mundial, pisarem na lua e terem suas teorias sobre o cosmo aceitas e aplaudidas. Certamente, estes todos são considerados grandes.
Paralelamente a tão gigantescos nomes, passei a vida ouvindo que eu seria grande. Todos os familiares apostaram suas economias em mim e bateram no peito bradando que a grandeza me pertenceria. Meus amigos me ovacionavam e os bonecos do meu quarto me aplaudiam de pé quando eu treinava meus discursos no espelho.
Entretanto, decepcionei a todos: parentes, amigos, a mim e ao meu ego. Não sei até hoje o que é ser grande.
Pensei que ser grande fosse discursar na formatura do Ensino Médio, mas não me dei por satisfeito e achei muito pouco perto do que me aguardava. Depois, supus que a grandeza estaria em um diploma de graduação, infelizmente, estava enganado. Posteriormente, me enganei achando que a grandeza estaria em ser reconhecido em minha profissão, mas nem isso eu me satisfez.
Fui instruído a deixar de lado minha criatividade e trilhar o “caminho do sucesso”, o qual já levara muitos outros ao mesmo baú do tesouro no final do arco-íris. Segui o conselho. Fiz, não por querer, mas por supostamente ser o melhor para galgar rumo à grandeza. Porém, aos poucos, fui vomitando minha essência colorida e engoli o preto e branco. Desaprendi a fazer o que me diferenciava e passei a ser só mais um.
Sou apenas mais um robô formatado para apenas absorver e reproduzir atitudes ditadas por alguém que desconheço. Não fui capaz de promover meus pensamentos, publicar minhas descobertas, tampouco de transformar o mundo num lugar melhor.
Sou pequeno. A grandeza passou ao meu lado, mas eu não soube conquista-la. Sinto decepcionar a todos que um dia apostaram suas fichas, mas preciso revelar: eu sou só mais um, como tantos outros.
É difícil ser grande quando há tantas pessoas gigantes por aí, principalmente quando não fui grande o suficiente pra apostar no meu verdadeiro eu. Não tive força de vontade para perseguir meu talento. Não tive persistência para fazer a diferença. Eu sou apenas uma formiga (dentre milhares de milhões) tentando fazer um estoque pra enfrentar o inverno. Hoje, tomando meu café amargo e vestindo este terno surrado e meio amassado, o sapato arranhado e as meias sujas, o cabelo ameaçando alguns fios brancos, maior do que deveria e a barba por fazer, sozinho neste apartamento de três cômodos, penso: será que tem como recomeçar? E se eu tivesse seguido o meu caminho? A pior parte da minha pequenez é a solidão que me acompanha. Caso queira me enxergar, pegue o seu microscópio.
Comentários
1 Comentários

Um comentário:

Anônimo disse...

Bom trabalho, Debora! Gostei muitíssimo.