Melancólicos, eles não
conseguem enxergar quem dança sem se importar se a luz está apagada ou acesa.
Eles, assustados, sentados continuam com receio de encostar uns nos outros. São
incapazes de admirar quem se diverte sozinho entrelaçando os pés e tropeçando
vez ou outra. Quem prefere permanecer inerte a dançar é incapaz de conhecer o próprio
corpo e descobrir que o limite vai além do que se vê.
Mesmo que as luzes se
acendam, eles preferem continuar imóveis, pois música alguma escutam. Por não
ouvirem sinfonia, acreditam que não há sentido em rodopiar ao som da melodia
que o ouvido de cada um cria, conforme sua imaginação. Eles são incapazes de
libertar um pouco os braços e movimentar um tanto as pernas e, infelizmente,
julgam e condenam quem se liberta a ponto de fazê-lo.
Eles não são sensíveis para
apreciar uma valsa sem som ou um tango no escuro. Por isto, continuam sempre
colados no chão de pernas cruzadas, ouvidos tampados e olhos vendados, pois a luz sempre esteve
acesa e a música nunca deixou de tocar, mas eles são incapazes de sentir, pela
frieza de um coração mecânico. Os que dançam não se importam em tropeçar, pois sempre arrumarão um jeito de se pôr de pé e continuar a coreografia não ensaiada.
