terça-feira, 6 de novembro de 2012

Aborrescente ou aborrecida?



Demorou pra cair a ficha mas em algum momento foi preciso abrir os olhos e acordar pra vida. Tentei ser, por muito tempo, só pré-adolescente. Queria ter apenas a pré-puberdade,  pré-namoradinhos, pré-broncas, pré-espinhas e por aí vai. Quando se é pequeno é bom errar, pois quando há erro, é apenas o primeiro, aceitável, perdoável. 
Infelizmente, o fenótipo e a data do RG muitas vezes não permitem a permanência eterna na pré-fase-mais-confusa-da-vida. Tive que sair da pré-adolescência e me afundar na adolescência. Uma hora a gente abre a porta e tem que encarar os draminhas, conflitos, blá blá blá... Tudo muito cansativo. 
Quando eu pensei que estava me livrando das situações que a adolescência trouxe até mim, percebi que aquilo era o mais fácil de enfrentar, agora deparo-me com a fase pré-adulta. Não sou mais uma adolescente inconsequente, também não sou um adulto responsável. Não sou adolescente nem adulto, sou nada especificado. Nada... nada, nada. Essa palavra ecoa pela minha cabeça, sou nadica de nada. 
Tenho responsabilidades mas não sou dona do meu nariz, tenho deveres mas não possuo muitos direitos. Preciso estudar pra ser "alguém na vida", por acaso sou eu Ninguém? Não posso ser alguém pelo que sou simplesmente?
Percebi que, quanto mais os anos se passam, mais eu preciso me modelar ao padrão medíocre dessa sociedade asquerosa e hipócrita. Sinto-me uma massinha de modelar nas mãos de meus professores, pais, mídia e tudo o que há em volta.
O que mais me indigna é que a minha geração consegue reunir as pessoas com o cérebro mais oco da história, com raras exceções. Adolescentes que juram fazer algo de fora do comum mas nada fazem na realidade. Procuram se sobressair por ser diferentes quando, na verdade, todos são exatamente iguais. 
Não sei mais sou apta para fazer o que sempre fiz. Não tenho mais ciência de minhas capacidades. Sinto um vazio profundo que penetra cada vez mais, vazio este que me faz a seguinte pergunta: qual a sua função? Nenhuma, pra falar a verdade. Sou só, e apenas mais uma peça nesse joguinho sem graça que se chama sociedade.
Minha cabeça é labirinto e meus pensamentos não chegam nem perto de pistas para conseguir achar a saída. Estou cada vez mais afogada dentro de mim mesma. Sim, estou aborrecida. Aborrecida por ser aborrescente. Aborrecida por não ser nada além de pré-alguma-coisa, coisa esta que eu nem sei o que é. 
Comentários
4 Comentários

4 comentários:

Anônimo disse...

*-*

paradeiro disse...

"Não sou nada, não quero ser nada! À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo!!!" A. de Campos, by Fernando Pessoa
Fantástico o seu texto! Necessariamente apocalíptico e niilista! Fico feliz de saber que arte e o poder de expressão ainda estão vivos dentro de vc, feliz por saber que esse "enquadramento" ao qual vc se refere não lhe retirou o olhar periférico e a perspectiva de entender que a palavra é, muitas vezes e ao mesmo tempo, um grito de liberdade e também uma forma de organizar o que nos vai por dentro em busca de que, talvez, assim, lendo de fora, linear e logicamente, a vida que nos escapa, que nos atravessa, que nos foge à compreensão, passe, enfim, a ter algum sentido. Conte sempre com o meu apoio e admiração. Beijos!!!

paradeiro disse...

Profa. Érica

Debora disse...

É muito gratificante receber elogios de alguém que eu admiro tanto. Obrigada, fico feliz que tenha gostado! Grande beijo.