Eu sou um livro. Daqueles nada atrativos: a capa sem sal e sem figuras, o conteúdo chato e cheio de palavras difíceis. Sou daqueles livros que ninguém está disposto a ler, só fica lá na estante, fazendo número. Um livro que nem as crianças se interessam porque, além de o conteúdo não agradar, não tem figuras. Um livro cujo autor acreditava que poderia atingir as pessoas, mas ninguém deu importância. Um livro cheio de palavras por dentro, muita coisa a dizer mas ninguém está disposto a escutar. Sou um livro cheio de pensamentos e certezas carregadas de dúvidas, mas tudo sem valor. Sou aquele livro grosso e pesado que ninguém quer carregar na mochila. Sou o livro que a pessoa vai direto pro final por não aguentar o enredo cansativo. Sou um livro com dedicatória para ninguém. Sou o livro que as pessoas param de ler já no prefácio. Sou o livro criticado pelos leitores que não o leram. Sou o livro que nenhuma editora quer publicar. Sou o livro que espera meses nas prateleiras das livrarias pra ser vendido, mas só vende quando está na promoção. Sou um livro escrito com amor, mas amor não é o suficiente. Eu sou um livro desinteressante, mas, um livro.
domingo, 8 de dezembro de 2013
terça-feira, 26 de novembro de 2013
Tic-tac
A verdade é que sou só saudade. Só saudade em cada pedacinho do meu coração, em cada canto da minha memória, em cada parte da minha história. Sou só saudade. Só saudade do que passou, do que ficou mas não é mais, do que será e deixará de ser. Só saudade de quem está longe, de quem estará longe e de quem foi embora pra sempre. Só saudade do que eu já fui, do que queria ser e do que penso que serei mas não seguirei em frente. Só saudade dos sonhos perdidos, esquecidos, banidos. Só saudade. Só saudade, em cada pedacinho.
A vida passa depressa, tão depressa que nem percebemos. Vivemos tão ocupados reclamando do presente, que esquecemos que, daqui a dois minutos, sentiremos falta dele. Vivemos enclausurados em nossa jaula de lamentações, que nos passa despercebido o fato de que os que estão ao nosso redor irão embora, seja de trem, ou pra debaixo da terra.
O tempo corre, voa, desliza. Ele foge, foge de quem não quer que ele passe. Foge de quem não o vê passando. Foge de quem torce pra que ele passe logo. O tempo é a água que tentamos segurar com as mãos, o ar que prendemos dentro do pote e a onda que tentamos impedir que volte pro mar.
Viver é acumular perdas e somar memórias, enterrar os que passam e criar novas histórias.Viver é o amor reprimido pela rotina, uma pílula de desespero em meio ao caos. Viver é acordar todos os dias reclamando, mas, nos seus últimos dias, pedir por mais dias para acordar. Viver é não querer ouvir a voz, mas, quando a voz se cala, ser capaz de tudo para ouvi-la outra vez. Viver é sentir o coração apertar de saudade e a angústia subir à garganta no ímpeto de tentar aproveitar ao máximo. Viver é o presente, pois o que foi não é mais. Viver é.
sábado, 23 de novembro de 2013
Rabisco
Traço a linha dos olhos, não, ver o mundo desse ângulo não vai ser bom. Apago. Começo a delinear o formato da cabeça, mas, pensando bem, uma cabeça pequena pode limitar os pensamentos dela. Apago. Decido começar pela boca, mas percebo que é muito importante tomar cuidado em como vou desenhá-la, coisas importantes sairão de lá. Apago. Desenho as orelhas, muito, muito cuidado, ela pode ouvir alguém dizer para ela desacreditar de seus sonhos e achar que é verdade. Apago.
Folha em branco, novamente.
É difícil desenhar e saber que a sua perspectiva vai ser a essência de alguém (principalmente quando esse alguém é você mesmo). Difícil pensar que um errinho, por mais simples que seja, poderá levar o desenho à lata de lixo. Amassado, rasgado, triturado. Decido começar do zero, mais uma chance: lá vamos nós. Abuso da borracha. Começo a acreditar que é inexequível alcançar a plenitude desejada.
Com o tempo, percebi que chegar à perfeição é uma fatuidade humana. A beleza se faz da hamartia, dos borrões e da lágrima seca. O belo não se constrói por si, precisa do feio para fazer-se ser. Sem o miasma, como sentir o aroma das flores? Ninguém é monolítico, a doçura de ser quem é está exatamente no irascível. O recrudescimento da beleza está na apoteose do rabisco. Belo é quando o lápis desliza e erra, mas depois risca por cima e consegue consertar, sem apagar a cicatriz.
Tentativas frustradas de auto retratos psicológicos fizeram-me perceber que nunca conseguirei terminar um auto retrato sequer. Nunca chegarei à uma conclusão, pois todos estamos em constante metamorfose. Não importa quantos traços estejam errados no desenho, as pupilas continuarão sendo iridescentes. Cansei de apagar. Cansei de usar a borracha. Doravante, todos os riscos errôneos serão mantidos, para lembrar-me onde não devo mais riscar.
terça-feira, 29 de outubro de 2013
Camaleão
Ela era incompreendida. Ninguém entendia a sua necessidade fútil de ter o cabelo sempre pingando de tinta. Achavam inútil o seu metamorfosear.
A verdade é que ela cansou de todos eles e, principalmente, de si mesma. Enjoou dos seus solilóquios discursos mentais, de suas teorias sem valor, de suas palavras inebriadas de rancor, de sua eterna dúvida entre ser nada ou coisa nenhuma.
Quando o navio estava prestes a naufragar, ela mudava a cor de cabelo como nova distração, até enjoar de novo. A monotonia a enlouquecia. Passou a odiar os cabelos meio-a-meio, os coloridos como o arco-íris, os homogêneos... Qualquer um. Odiava todos eles, inclusive os dela.
Buscava sempre o diferente, mesmo sendo tão igual aos outros. Buscava investigar, mesmo tendo que engolir o que era imposto a ela. Queria sempre inovar, mesmo não saindo nunca do maldito sofá de casa.
Ela era tão insuportavelmente instável e comum, que mudava sempre de cabelo. Era tão confusa e previsível, que mudava sempre de cabelo. Tão entediada de si mesma, que mudava sempre de cabelo. Tão sonhadora e conformada, que mudava sempre de cabelo. Tão ridiculamente irascível, que mudava sempre de cabelo. Tão abjetamente recôndita, que mudava sempre de cabelo. Tão obsoleta em seu cacofonismo interno, que mudava sempre de cabelo. Tão solitariamente esquipática, que mudava sempre de cabelo. Tão, tão, tão... que mudava sempre de cabelo.
A verdade é que ela não suportava a si mesma. Ela mudava de cabelo pra se livrar de si, na esperança frustrante de que, mudando o cabelo, mudaria todo o resto. Mudava o cabelo pra disfarçar seu caos interior, até que, um belo dia, raspou os cabelos e explodiu.
terça-feira, 22 de outubro de 2013
Domingo
Depois da alegria de seguidos sábados, é preciso encarar a melancolia do domingo. Sábados chuvosos, ensolarados, nublados, quentes, frios, congelantes... todos os tipos de sábados conseguiram transbordar meu coração de amor. Todos os tipos de sábado trouxeram consigo meu amor, meu guia. Trouxeram consigo aquele abraço e aqueles beijos. Trouxeram as sessões de cinema, o picnic, as brincadeiras, os risinhos, a completude. Todos os tipos de sábado foram capazes de me fazer feliz.
Quase três anos vivendo só de sábados e acreditando que o domingo nunca chegaria. Chegou. Chegou e veio acompanhado da pior das solidões. Chegou engasgando sentimentos e jogando contra a parede todos os planos já feitos. Chegou fazendo desacreditar nas cores do mundo e nas notas musicais. Chegou e fez pensar que só é possível ouvir o canto dos passarinhos aos sábados, pois o dia seguinte é sempre melancólico.
Faltam-me palavras pra encarar esse domingo. Falta-me aptidão pra conversar com a solidão. Transborda em mim romance que não será mais usado. Um peito inebriado de saudade e, agora, mais saudade.
terça-feira, 17 de setembro de 2013
Metadeborizar
Não se meta na minha meta de metafoximorar
Eu gosto do gosto gauche de poemizar
Meu montículo de versos mnemônicos e mínimos
Onde exijo exiguamente o meu exílio exequível
Fato é que minha fatuidade ganhou fala
Carrego catacreses cacofônicas comigo
Tudo bem que de tagarela passei a taciturna
Porque minha pirexia prosaica e prolixa piorou parseccamente
Meu mundo minusculamente monolítico
Indica o ímpeto ígneo e idílico de ser irascível
Escapo do escopo dessa escória estranha
E perco-me em meus néscios, mas prescípuos poemas pirrônicos
Sendo sacripanta e sandeu, subo ao socrócio de ser eu
Recrudesço do recomeço do reconhecimento regenerado
Enxergando a ênfase do meu eu esquipático
Dessa vez, meu diatrofismo foi ductível, designando: Debora
segunda-feira, 10 de junho de 2013
Efêmero
Independente de como ou do porquê, todas as vidas se iniciam da mesma maneira. O espermatozoide encontra o óvulo para, a partir daí, dar origem a mais um indivíduo habitante do Planeta Terra. Não importa se a vida é desejada ou não, na verdade, nada importa muito, visto que somos apenas mais uma espécie de animais nesse planeta gigantesco, tentando apenas chamar a atenção pra nós mesmos, julgando ser superiores às outras espécies.
Nascemos e aprendemos valores pré-determinados. Nossos pais, familiares e professores mastigam tudo o que querem que aprendamos e esperam que façamos apenas uma coisa: engolir. Engolimos como deve ser a linguagem, a maneira que devemos nos comportar, o que não devemos fazer em público ou na intimidade do nosso quarto; Engolimos as ciências da natureza como certas, sem antes contestar se realmente tudo é feito de átomos, ou se nossos neurônios realmente fazem sinapses; Engolimos a matemática como conceito estabelecido e não nos damos ao trabalho de contestá-la, apenas aceitamos.
Aceitamos ser deglutidores de conhecimento alheio. Deglutimos o máximo possível de informações para, um dia, ser alguém que a vida julga "ser alguém". Continuamos o mecanismo com nossos filhos e netos, até que um dia, depois de tudo, viramos todos exatamente a mesma coisa: pó.
Passamos a vida inteira aceitando valores de uma sociedade, ou, raramente, lutando contra os mesmos. O que quase nunca acontece é congelarmos o mundo e pensarmos qual o sentido que há em tudo isso. Qual o sentido em sermos apenas máquinas de um sistema? E se vivêssemos em uma perspectiva completamente niilista que nos faz regurgitar tudo o que somos obrigados a deglutir?
Seria interessante, talvez, deixar um pouco de lado a perspectiva Durkheimiana de que os valores e regras que regem a sociedade têm vida própria mediante a manifestação da ação individual. Talvez o real fato social é que o Fato Social deveria deixar de tomar conta das ações individuais, visto que a coerção é a maneira mais cruel de sufocar as atitudes individuais. A maneira como levamos a vida é pura, única e simplesmente o resultado de valores pré-estabelecidos ao longo da história por um conjunto de pessoas interessadas em colecionar marionetes.
Esquecemos que tudo é passageiro e que, de repente, nada do que é hoje será amanhã. Todos os valores que prezamos hoje poderão ser desprezados logo em seguida. "Tudo flui e nada permanece; tudo se afasta e nada fica parado (...). Você não consegue se banhar duas vezes no mesmo rio, pois outras águas e ainda outras sempre vão fluindo (...). É na mudança que as coisas acham repouso (...)", palavras de Heráclito. Nada é constante, apenas a mudança. A vida é efêmera e passa rapidamente, assim como mudam as águas de um mesmo rio.
Passamos a vida inteira tentando compreender o porquê das coisas acontecerem, das pessoas viverem como vivem ou do mundo girar no sentido anti-horário, que esquecemos de realmente sermos sensacionistas, ao invés de nos tornar escravos da metafísica desde a pré-escola. Perdemos tanto tempo tentando entender, que acabamos não tendo tempo para admirar a beleza de tudo o que há ao nosso redor.
A grande hamartia da vida é que esquecemos de vivê-la. Vivemos em um mundo preto e branco e procuramos entender o que são as cores, ao invés de misturá-las e fazer maravilhas com sua beleza. Passamos tanto tempo fechados para tudo que esquecemos que a vida passa rápido e tudo pode acabar em um simples sus
terça-feira, 15 de janeiro de 2013
Base quatro
São quatro. Um, dois, três e quatro. Quatro laços bem feitos pela vida e impossíveis de serem desatados. Nó de marinheiro, não tão simetricamente calculados e planejados, mas que culminam em uma amizade inquestionável. Irmãs pelo sangue ou pelas circunstâncias, ou pelos dois, juntamente.
Anos passados lado-a-lado e mais anos distantes fizeram dois pares de corações unidos e indissociáveis, de modo que cada uma, em sua maneira intrínseca, cuida da outra.
Quatro caminhos que se iniciaram afastados pelas circunstâncias da vida e se afunilaram pelo mesmo motivo. Irmãs do fundo do peito que não precisam ter pai e mãe em comum pra dizer com orgulho: "essa é minha irmã". Irmãs que se amam mesmo em meio aos defeitos, que não vivem umas sem as outras mesmo tendo a distância como obstáculo desde o princípio.
Laços de amor se firmaram e estavam escritos, traçados, planejados e abençoados. Uma foi feita pra cuidar da outra, zelar, importunar e brigar. Brigar, sim. O que seria do amor sem brigas? Quanto mais um nó é puxado para lados opostos, maior a tendência dele ser forçado a permanecer sempre ali, atado.
Quatro caminhos diferentes, de pessoas completamente diferentes. Personalidades fortes, carinhas emburradas e menininhas reclamonas.
Chegou a hora de crescer mais um bocadinho, separar fisicamente os passarinhos que já estão prontos para alçar voo. Chegou a hora de abrir a gaiola e conquistar o mundo! Difícil viver longe, porém, necessário. Quatro motivos de orgulhos diferentes. Conquistas que abrem sorrisos sinceros e marejam os olhos daqueles que só torcem pelo sucesso delas.
Quatro elementos, um cooperando para o outro pra vida na Terra. Água, terra, fogo e ar. Quatro pernas de uma mesa, afinal de contas, se uma faltar, a mesa fica sem base e não aguenta o tranco sozinha. Acorrentadas estão as outras três no coração de uma das quatro, guardadas à sete chaves e protegidas de todas as maneiras.
Uma do quarteto vê a pequena crescer e as grandes voarem, torcendo para que todas alcancem altitudes cada vez maiores. Uma delas não descobriu ainda como vai ser viver longe, não sabe ainda qual será o amparo procurado nos piores dias ou a quem vai irritar nos momentos de prazer. Uma delas acostumou a ver uma das outras três voando longe, mas esteve sempre pronta pra se materializar perto da outra, caso houvesse queda. Uma delas diz que estará sempre disposta a atravessar madrugadas compartilhando segredos. Uma das quatro ama incondicionalmente as outras três e deseja, somente, fortificar os laços e engrossar a corda cada vez mais.
(Com amor, dedico esse texto às minhas três irmãs: Gabriela, Elaine e Amanda)
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