O pipoqueiro estava passando na rua e eu ouvi de longe a
típica buzina. Ao avista-lo, logo me animei pra comprar o algodão doce
cor-de-rosa que estava pendurado do lado esquerdo do carrinho de madeira. Passei
o dia sonhando acordada com um docinho, qualquer que fosse. Estava em um nível
de abstinência tão absurdo que até uma barra de cereal de morango ajudaria a
ânsia pela glicose no sangue. Ao ver o pipoqueiro e ouvir sua buzina, a boca
começou a salivar imediata e instintivamente, pensando no algodão doce
cor-de-rosa derretendo e provocando orgasmos às papilas gustativas.
Rapidamente, desfiz o nó do barbante que amarrava o saco do
doce comprado e, triunfantemente, enfiei um tufo na boca. O algodão doce
derreteu, mas não como as esperadas nuvens explodindo açúcar e grudando nos
dentes molares, o gosto era mais parecido com pirulito velho que fica na
barraquinha de bombom e ninguém quer, e quando a gente, desafortunadamente,
resolve comprar, o pirulito é tão antigo que o papel fica um pouco grudado
antes de se soltar.
Foi uma decepção. Esperei tanto do algodão doce, mas ele
jogou minhas expectativas dentro do esgoto e me fez recordar que não é só o
algodão doce que nem sempre é tão docinho assim.
A partir daquele momento, o dia ensolarado e azul passou
ressaltar o calor que faz em dias ensolarados e azuis. Deixei de admirar o
contorno das nuvens fofas para perceber que nem sempre as nuvens branquinhas
formam desenhos no céu, aliás, elas só me fizeram lembrar do maldito algodão
doce com gosto de pirulito passado do dia certo de chupar.
Assim foi no último momento do dia: quando peguei o
computador para escrever qualquer coisa que viesse à cabeça, como costumava
fazer. O algodão doce, apesar de doce, pareceu aquele pirulito quase passando
da validade que ninguém compra na banca de bombom. Mesmo nunca enjoando de
algodão doce e sempre querendo mais, aquele, justamente aquele, não estava tão
bom assim. O gosto somente lembrava o sabor costumeiro dos melhores algodões
doces que provei na vida, mas não chegava aos pés, não se comparava, não
derretia e não tinha o sabor certo do açúcar cor-de-rosa. Apesar de doces, as
palavras não derreteram como costumavam derreter e não as devorei como
costumava devorar. Pelo contrário, larguei um pouco de lado o algodão doce e
pensei: o que diabos aconteceu para que ele ficasse com gosto de pirulito
velho?
Levantei da cadeira, dei um nó na embalagem e larguei de
mão a nuvem cor de rosa. Fui ao banheiro escovar os dentes e pensei: talvez eu
não tenha mais o jeito certo para me deliciar com algodão doce.
