terça-feira, 12 de dezembro de 2017

A experiência profissional mais linda da minha vida


Desde criança eu soube o que eu queria para a minha vida: ensinar. Uso o verbo no infinitivo porque soube o que queria, mas não sobre o que queria, portanto, não sabia como conjuga-lo. Cresci vendo meu pai à frente de uma sala de aula ensinando (no gerúndio, porque é o que ele sempre fez), corrigindo provas até tarde da noite, cumprimentando os alunos em todos os lugares para onde íamos e, de longe, eu não tinha ideia de como esta experiência é quando você está em pé à frente da sala e não sentado na carteira.
Certa vez, fui convidada por uma professora para ser monitora de Física na escola e foi aí, neste ponto, em que eu comecei a, cada vez mais, sentir gosto por estar, ainda que temporariamente, onde sempre vi meu pai.
Quando entrei na faculdade de Direito tive a certeza de que queria ser monitora, mas foi difícil descobrir de quê. Eu gostava das matérias, mas não o suficiente para mergulhar na monitoria como eu gostaria de fazer: de corpo e alma, do fundo do coração, 100%. Até que chegou o quarto semestre e tudo se tornou muito simples: é claro, eu queria ser monitora de Processo Civil.
Precisei esperar até o sétimo semestre para tentar a monitoria e foi a espera que mais valeu a pena ao longo de toda a graduação. Quanto mais o tempo passava, mais vontade eu sentia de tentar. Quanto mais eu aprendia, mais eu queria aprender. Quanto mais eu via colegas com dificuldade, mais eu pensava: é, eu posso ajudar. Ao longo da ânsia pela prova da monitoria, o que acalmava os ânimos eram as revisões pré-prova, organizar meu caderno, pensar em como eu poderia fazer aquilo da melhor maneira que eu pudesse fazer.
O sétimo chegou. Fiz a prova. Passei. Ao longo do ano, vivi a experiência mais linda da minha graduação. Mergulhei por inteiro, doei tudo o que eu pude. Senti à flor da pele (ainda que somente como monitora) o duro caminhar de quem escolheu ensinar. Acompanhei, de pertinho, todo o processo pelo qual os professores passam ao longo do ano. É difícil, corrido, puxado... É. Mas é o que eu quero pra mim.
Ao longo do curso de Direito não há disciplina que nos ensine a ser professor, que diga o que deve ser feito, como deve ser feito, como é a melhor maneira de lidar, de falar, mas, talvez o mais importante: de ensinar. A tendência é que, inconscientemente, imitemos os professores com os quais nos identificamos. Muito possivelmente repetiremos o que achamos bom, ainda que não tenhamos consciência de que estamos fazendo exatamente isso.
As aulas hipnotizantes do meu professor de Processo Civil da graduação, a organização e competência exemplares do meu professor orientador da monitoria em Processo Civil, a memória digna de HD externo do professor de Filosofia, a atenção e disponibilidade do professor de Direitos Humanos, a proximidade com a turma do professor de Direito Penal... são tantas características específicas que torna-se inenarrável elencar todas, assim como impossível recordar cada uma delas neste momento mas que, com certeza, elas emergem em nós, discentes, quando menos esperamos. O que notei que há em comum em todos eles: o amor pelo que faz, o qual se manifesta de maneiras diferentes em cada personalidade.
Certa vez, uma amiga disse que a monitoria é o ensaio para a docência. E é. Justamente por não aprendermos o que é e como é ser professor durante a graduação, poder andar ao lado de um mestre e absorver o máximo possível de toda a experiência que ele pôde repassar ao longo de um ano é uma experiência deveras especial. Todas as dicas, ensinamentos, tarefas e correções de quem já está onde eu espero estar daqui a alguns anos foram fundamentais.
Conheci muitas pessoas. Pessoas diferentes, com histórias e sonhos diferentes. Uma pluralidade de pessoas singulares que enriqueceram cada passo que eu dei, cada aula que acompanhei, cada conversa de corredor, cada dúvida no meio da madrugada, cada aula sábado de manhã.
Porque eu senti que precisava aprender cada vez mais para ajudar aquelas pessoas que esperavam que eu soubesse responder os seus questionamentos. Porque senti o sabor da gratidão em saber responder e, quando não soube, em procurar a resposta. Porque eu doei tudo o que pude, mergulhei de cabeça num universo que ainda era desconhecido, fiz o melhor que poderia ter feito e sinto que cumpri meu dever. Porque me despedir está sendo mais difícil do que pensei e, mesmo hoje sendo o último dia, já estou nostálgica. Porque sou grata por absolutamente tudo o que essa experiência me proporcionou. Porque eu percebi que sequer comecei a engatinhar nesta caminhada que há de ser longa, porém, também será gratificante. Esses são alguns dos inúmeros porquês que justificam o fato de a monitoria ser a experiência profissional mais linda da minha vida, porque (mais um), agora, tenho a certeza de que nasci para fazer exatamente isso.

quarta-feira, 6 de setembro de 2017

Palavras de quem passou da metade do caminho


Este é um dos textos mais pessoais que já publiquei aqui (quiçá o mais), primeiramente porque escrevo em primeira pessoa e, naturalmente, sobre a minha pessoa. Chega um momento da graduação que ou você se encontra, ou você se perde, ou, na pior das hipóteses, você empaca e não consegue sair do lugar. É a pior das hipóteses porque ao menos quando você se perde há a possibilidade de descobrir novos caminhos, mas quando empaca, você fica infeliz e se afoga cada vez mais na infelicidade de não ter se encontrado. Pois bem, este texto não é sobre isso. As palavras que aqui vos falo expressam exatamente o contrário: esta é a história de alguém que sente que se encontrou.
Há quem diga que a graduação é um terror, mas aqui eu digo exatamente o contrário: a graduação não é o tempo suficiente para fazer tudo o que é possível fazer enquanto graduando. Quanto mais perto do fim, mais coisas você quer fazer e menos tempo você tem. Ao longo dos semestres na faculdade a ficha foi caindo sobre isso. Eventualmente, a gente reclama sobre o cansaço, as provas e que tudo está difícil (às vezes, beirando o impossível), mas ao mesmo tempo se apaixona pela vida acadêmica. O fato é que o tempo e a maturidade nos fazem perceber que há muito o que se fazer e que é necessário, sim, acordar todos os dias com vontade de fazer melhor do que fizemos ontem.
A petição inicial foi ajuizada quando passei no vestibular e a etapa de conhecimento ocorre durante toda a graduação. Hoje, no 8º, vejo que estes últimos semestres são a audiência de instrução e julgamento, etapa do processo em que produzo certo tipo de prova (ou faço provas, muitas) para que seja prolatada a sentença: o meu diploma de bacharel em Direito. Sentença esta que transitará em julgado e passaremos à etapa de seu cumprimento, que ocorrerá voluntariamente.
Mas talvez este texto sobre mim também seja para você, que ainda não se encontrou plenamente. Pegarei emprestada uma metáfora de Hart sobre a aplicação das regras, mas que fique claro que utilizarei a metáfora de Hart metaforicamente: uma metáfora da metáfora. Ou seja, não cobre conceitos filosóficos por aqui, por gentileza.
Hart faz uma analogia entre como funciona uma regra e como funciona um foco de luz, mas você não precisa saber disso, porque eu utilizarei a metáfora de Hart de outra maneira que nada tem a ver com regras.
Imagine uma lanterna apontada para uma parede no escuro. O local para onde a lanterna aponta pode ser visto com clareza. Esta é a zona de foco e representa os estudantes que sentem que se encontraram no curso e estão felizes e satisfeitos por estarem onde estão e não duvidam do que querem. É claro, certeiro, fácil de visualizar.
Entrementes, olhando novamente para onde aponta a lanterna, quanto mais você afastar o foco da luz, será formado um aro escuro, onde se vê cada vez com menos clareza o que está lá: esta é a zona de penumbra, onde estão os alunos que ainda não se encontraram em seus cursos (seja no Direito ou em qualquer outro). A zona de penumbra é uma zona de incerteza. Você não sabe necessariamente porque está ali, porque escolheu estar ali, se quer continuar ali... está inebriado de dúvidas e pode chegar a diversas decisões.
Se você ainda está perdido, você tem duas opções: ou você tenta aproximar um pouco mais a lanterna da parede para que a zona de foco apareça, isto é, procurando atividades, mergulhando no universo que é a graduação, tentando um estágio novo, quem sabe? Você ainda pode se encontrar onde está. Entretanto, se você acha que está na zona de penumbra (isto é, a luz se esvaiu do foco em decorrência da distância entre a lanterna e a parede), nada impede que você aponte a lanterna para outro lugar e, quem sabe, encontre uma parede mais próxima e, consequentemente, a sua zona de foco.
Este emaranhado de palavras e ideias mesclam um desabafo de gratidão por eu sentir que estou exatamente onde deveria estar (na zona de foco) e conselhos (que ninguém pediu) para quem acha que não está no lugar certo. Sempre haverá uma parede um pouco mais próxima em que você poderá se encontrar. Desculpe, Hart, se isso foi heresia, mas é que aqui eu faço poesia.

sexta-feira, 30 de junho de 2017

Precipício


Quase à beira do abismo, mirei o horizonte, estreitei os olhos e tentei enxergar uma realidade diferente daquela que me colocou na ponta do precipício. Realidade paralela jamais, mas, quem sabe, perpendicular, onde o ponto de encontro indicasse, ao menos, um fundo de contentamento. Dei dois pequenos passos para frente e senti o vento estapear meu rosto e o sol poente dizer adeus lentamente. Talvez o último.
A grande celeuma não é simplesmente o mundo concreto e real, mas a ausência de perspectiva e de retas transversais que cruzem minha linha do tempo e formem pontos em que seja possível vislumbrar coisas boas. A perda da esperança corrói lentamente o coração de alguém que tem em sua essência o otimismo. É como colocar um copo sobre uma vela acesa: uma hora ou outra, apaga. Dei mais um passo à frente.
Desenganada está a reviravolta, apesar de respirar com ajuda de aparelhos. Resta saber se vale a pena a eutanásia na altura do campeonato, novamente dependendo do filtro de um otimismo insano e juvenil, talvez até inocente, que talvez seja fruto pura e simplesmente da covardia que se recusa a enxergar a realidade clara. Dei mais um pequeno passo.
Com os olhos semicerrados e lacrimejando, olhei para baixo e apenas enxerguei a queda livre, o desespero disfarçado de normalidade, o vômito pela angústia de demasiadas dúvidas, mas, mais que isso: um riozinho (que daqui parece um filete) corre lá embaixo, talvez com vida, peixes, correnteza. Um riozinho que, de onde olho, é discreto, mas que de perto deve ser possível se banhar, lavar os pés, as mãos, a alma.
Não tenho como chegar até ele agora, a descida é grande e estou sem forças. Contudo, dei vinte passos para trás e sentei no chão, apreciando a vista, a noite recém nascida e as possibilidades, porque o tempo corre como o rio e, com a correnteza, tudo passa.

segunda-feira, 1 de maio de 2017

Segunda-feira


O iniciar da semana traz em seu seio
O pesar da expectativa de fadiga
A ciência do cansaço que reinicia
A carga de bateria cheia que se esgotará
Entrementes, vem regado da esperança
De novas perspectivas e objetivos
Energia renovada para fazer tudo melhor
Tentar de novo,
Mostrar para o que veio

Esta segunda-feira é diferente
Sucede um domingo melancólico
Desesperançoso e desesperado para terminar
Que implora pela segunda pelo simples fato de recomeçar
Pra terminar de novo e começar novamente
No piloto automático

Esta segunda já inicia com a bateria descarregada
Reflete um coração vazio e sem ânimo
De quem carrega o mundo nas costas
E não sabe mais como celebrar o sábado
Porque a vida se resume a domingos e segundas-feiras:
Melancólica e cheia de obrigações                        

Esta segunda é de alguém que nada é
Mas que um dia sonhou
Em viver brilhantemente
Com a expectativa das sextas-feiras
E a alegria de quem aproveita os sábados

Vida desastrosa, de segunda categoria
Maldita segunda-feira de quem não consegue
Enxergar a luz no fim do túnel
E espera sempre pelo fim do dia, da semana, do mês, da vida

Quando a vida perde o sentido
Só pode ser segunda-feira
O grito do fundo do poço já não é mais ouvido por quem está nos sábados
Escoou a penúltima gota de otimismo
Mas a última ainda sussurra:
Esta segunda-feira é, ao menos,
Um recomeço

domingo, 12 de março de 2017

Dente de leite


Com a pouca bagagem de experiência de vida dentro da mochila, ao encarar os desvios do caminho, muito medo sente ao fazer escolhas e se arrepender depois, como todas as outras vezes em que teve que fazê-lo. A ânsia de se aventurar pelo sucesso e o medo desesperador do fracasso a fazem dar sangue, suor e lágrimas para alcançar seus sonhos. O grande temor, entretanto, é se, ainda assim, não alcança-los.
As chances de dar errado são tão maiores que a probabilidade de dar certo, assim como qualquer deslize é capaz de colocar tudo a perder. Ao deitar a cabeça no travesseiro, um turbilhão de pensamentos e possibilidades inesgotáveis invade a pequena cabecinha de uma jovem que começa a dar os primeiros passos.
É como o medo antes de arrancar o primeiro dente de leite, misturado à ansiedade de receber um dente definitivo que, uma hora ou outra, vai nascer bem no lugar do dente que caiu. No fundo, ela cogitava a possibilidade de o dente definitivo nunca nascer e continuar banguela pra sempre, apesar de ter grandes esperanças em um dente novo e forte.
Por muito tempo, dedicou às palavras a responsabilidade de expressar o medo de crescer, isto é, do nascimento dos primeiros dentinhos. Agora, que grande (um grande pequeno, de fato) está, dedica a elas a incumbência de expressar o medo de não ser o adulto que sempre almejou ser, de não conquistar os sonhos que cultivou, os planos que formulou, as metas que estipulou. De, enfim, não ter um belo sorriso.
Crescer é, caso necessário, usar aparelho ortodôntico para consertar os dentes que por ventura não ficaram no lugar certo, ou simplesmente aceita-los do jeito que nasceram e se adequar a eles.  Crescer é um conjunto de medos, erros e acertos, todos misturados na mesma atitude, se bobear.
Nem sempre o dente sai quando a mãe amarra o fio dental e puxa. Às vezes, a fada do dente não faz o seu papel e o dente teimoso não amolece o suficiente, de modo que é necessário ir ao dentista para tirar o dente de leite antes que o permanente nasça e empurre o antigo para onde não deveria.
Essa é a perfeita alusão a quem está passando pelo verbo “crescer” no gerúndio. Alguns dentes de leite já caíram, alguns provisórios já nasceram, entretanto, um ou outro provisórios teimam em ficar, quando na verdade já deveriam ter dado o fora. Enquanto a criança quer que o dente caia logo, tem que lidar com o medo do dentista e daquelas máquinas com barulhinhos que dão aflição em qualquer um. Esse é o exato momento em que as responsabilidades empurram para fora o ímpeto jovem de ignorá-las enquanto ainda dá tempo.
Após a retirada do dente, a jovem lida com o espaço vazio, o sorriso banguela exibindo a fase adulta recém-adquirida e a ansiedade pelo nascimento do dente novo. O medo (sempre, sempre medo) de que ele nasça torto e depois tenha que arrumar. Depois que ele nasce, ela se acostuma e as novas responsabilidades passam a ser apenas mais uma parte do cotidiano, embora a espera pelo nascimento do novo dente seja sempre uma pedra no sapato.
Aos poucos dá adeus à menina que foi e paulatinamente reconhece que crescer é muito mais do que apenas trocar os dentes provisórios pelos definitivos, também é cuidar dos definitivos: escovar, passar fio dental... Mas o que está escrito aqui não é sobre odontologia, tampouco sobre cuidados dentários, como é possível perceber facilmente. Não reparem o sorriso banguela, ela também ainda está se acostumando com ele. Futuramente, se tudo der certo nessa primeira troca de dentes, falaremos sobre sisos.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

3ª pessoa do singular


Esse moço entrou na minha vida e me ensina todos os dias um pouco mais sobre ele. Eu não preciso de muito esforço pra aprender, o conteúdo flui e eu simplesmente absorvo. Com o passar do tempo, aprendi os mínimos detalhes, as percepções mais singelas, aquilo que poderia passar despercebido e não passou. Ele é tão bom na arte de lecionar sobre si que eu fiz graduação, pós-graduação, e pretendo seguir para o mestrado e doutorado, aprendendo cada vez mais e mais sobre a pessoa que me fez enxergar o mundo de um jeito mais bonito.
Eu sei que quando ele ri de verdade ele fecha bem os olhinhos, fica cheio de pés-de-galinha e abre uma risada bonita e gostosa com um som bem característico. Eu sei que no sol os olhos dele ficam tão verdes e as pupilas tão pequenas, enquanto que na luz habitual as pupilas costumam ficar gigantescas e o verde assume um tom escuro.
 Eu sei que em dias de jogo do Flamengo o humor dele corre perigo, então é bom estar atenta ao resultado da partida. Também aprendi que ele tem um lado sombrio e chato no humor, principalmente logo depois de acordar. O ideal é ficar quieta enquanto ele resolve ser um verdadeiro chato, até que o humor volte ao normal (e ele nem vai notar que esteve chato todo aquele tempo, a menos que eu fale, mas, mesmo assim, vai negar).
Eu percebi que ele tem uma cicatriz no meio osso do nariz, tem uma mancha de catapora no braço, vários redemoinhos no cabelo (que sempre o fazem reclamar pela revolta da cabeleira), pequeninos sinais no ombro, pelos em formato de coração nas costas, uma cicatriz na bochecha direita e o meu detalhe favorito: a mancha vermelha na nuca.
Aprendi que não importa o quão preso o lençol de elástico esteja no colchão, ele vai dar um jeito de bagunçar. Notei que, por mais que ele não suporte ouvir música sertaneja, se ele estiver em um local público e o som for este, ele vai tamborilar discretamente com a ponta dos dedos.
Talvez um dos detalhes mais importantes da personalidade dele é que nunca, nunquinha, ele pode estar errado. Se, por algum acaso, houver a mera possibilidade de ele estar equivocado, ele vai tentar reverter a situação na maior cara de pau, sabendo que eu sei que ele sabe o quão errado está. Agora, se ele estiver certo, vai fazer questão de colocar uma placa em letras garrafais pra esfregar na cara de quem errado estava. Se ele tiver absoluta certeza de que estava certo, vai pesquisar no Google e provar pra outra pessoa. Não adianta, ele sempre tem que estar (ou tentar estar, ou fingir que está) certo sobre qualquer coisa.
Falando em Google, ele é fã declarado da empresa. Tudo, absolutamente tudo, ele vai tentar comprovar no Google. Ele defende o Android com unhas e dentes e, sempre que puder, vai falar mal do meu telefone iOS.
Com o tempo, percebi que ele é dono de um coração tão peculiar e inocente, que não percebe as malícias ao redor. Ele vive num planeta paralelo extraordinário (o que o faz assim ser também), e eu tive muita sorte por ter sido aceita como inquilina neste outro mundo.  Para ele, certos desvios tão comuns no mundo banal simplesmente não fazem sentido, de modo que são impraticáveis na realidade que ele escolheu viver.
Apesar de ter o coração mais puro que já conheci, tem também a personalidade mais implicante. Aprendi que ele faz questão de implicar com as pessoas com quem realmente se importa. Ele vai ser estúpido com os amigos, vai cutucar nos lugares em que ele sabe que eu vou ficar aborrecida, mas vamos reagir a isso sabendo que ele faz só de brincadeira.
Ele é especialmente bom em fazer balizas, melhor do que eu em cozinhar (deveras fã de queijo ralado e cebola), muito talentoso em tocar violão, domina a norma culta da língua. Ele digita no celular deslizando os dedos. Ele não sorri pra foto e, quando parece que isso aconteceu, na verdade, ele estava dando risada.
Ele é aquela palavra de baixo calão que começa com f.