Eu, mulher, não sou o que esse homem diz, ou talvez
eu seja. Pergunto-me se sou todos os adjetivos depreciativos que tenho que
engolir. Quiçá eu seja um peso, mas tenho que lidar com o pesar de ser quem
sou. Não! Não sou o que ele diz, sou melhor, sou forte por ainda acreditar. É,
mas não acredito tanto.
São tantos achismos que acumulo no peito, que perco
as forças para continuar nadando contra a maré, mas não tenho coragem de ir em
direção à beira da praia, o que me faz me deixar levar pela correnteza. Cada
vez mais a força do mar me puxa para o fundo, e sigo me afogando, com medo de
nadar para a areia.
Ainda que eu veja o farol a cento e oitenta metros
de distância, não tenho forças para ir até ele. Sopeso: lá certamente alguém
saberia como me ajudar, contudo, sequer tenho coragem. E se a força que ele tem
nas ondas me puxar de volta e me afogar mais? Não sei respirar debaixo d’água,
tampouco conseguirei lutar por mais tempo.
Vez ou outra, avisto embarcações passando, penso em
pedir ajuda, mas quando ele percebe que estou dando as primeiras braçadas rumo
à liberdade, abranda suas forças, consigo flutuar brevemente e, vez ou outra,
admirar o céu azul, supostamente em paz. Por alguns momentos, começo a cogitar
a possibilidade de ser feliz com o Mar.
Até que, repentinamente, ele me afoga novamente em
lágrimas, me enche de manchas roxas pelo corpo e feridas incuráveis na alma. O
Mar me diminui e é tão salgado quanto meu pranto, o que me faz pensar: talvez
eu seja inútil mesmo. Não consigo nadar? Devo estar fadada ao sofrimento.
Ao mesmo tempo, deixo escapar para os peixes, vez ou
outra, minha solidão em meio às ondas. Cento e oitenta vezes já me aconselharam
a nadar para a beira, mas não consigo. Hoje, desfiz a utopia e criei coragem,
vesti um colete salva-vidas e nado, firme e forte, rumo ao farol, que está
a cento e oitenta metros, para que, enfim, eu possa pisar na areia e sentir o
calor do sol em minha pele. Feliz. Livre. Em terra firme.