Nós,
românticos de plantão, costumamos fantasiar sobre o que vai acontecer após
determinado evento. O que acontece depois da primeira conversa, do primeiro
encontro, do primeiro beijo. Como vai se sentir o coração depois das primeiras
juras de amor, ou mesmo o quão partido ele estará depois do término. Aos
lamentos do pós, Marisa Monte dedicou uma canção inteira, prometendo, com sua
singular voz, que “haverá de ser feliz também, depois”.
Eu
sempre quero escrever depois que acontece algo, bom ou ruim, porque é a hora em
que eu já tenho material o suficiente pra desenvolver alguma prosa. Apesar do
depois ser interessante, por acontecer após o rascunho de um começo e servir de
adubo à imaginação, acho que os românticos versistas dão pouca importância ao
que precede. Se nós pararmos pra analisar com cuidado, o antes tem a beleza do
abstrato e guarda uma infinidade de possibilidades de bordado com aquela linha
vermelha toda emaranhada.
Os
preparativos no banho antes do primeiro encontro, o nervosismo antes de entrar
no carro com ele pela primeira vez, a troca de olhares tímida e conectada antes
do primeiro beijo, as expressões faciais antes de descobrir uma porção de semelhanças,
o desajeitado entrelaçar de dedos antes de se sentir à vontade para andar de
mãos dadas.
O
que vem antes de cada evento parece um sentimento de que estamos tateando no
escuro, mas sem perder a coragem de continuar dando novos passos. Só é possível
descobrir que a caminhada será boa se estivermos sob a sombra da iminência,
para, então, iluminar a nossa história após cada novo passo dado.
É
bonito de ver o que precede as três palavras, antes de elas serem ditas. A
conexão sublime e silenciosa dos olhares, acompanhada por dois sorrisos bestas
e uma ventania na barriga. Os pensamentos recorrentes de estranhamento e
questionamentos internos: “é cedo demais para essa frase?”. A vontade
incessante de conversar com ele, os pensamentos recorrentes sobre a sorte de
tê-lo encontrado, a felicidade doce e inusitada de começar a escrever uma nova
crônica. A leve espera pelo bom dia de manhã, e pela conversa rotineira no fim
do dia. Os novos planos sobre o hoje, o amanhã, e o depois de amanhã,
respeitando o calendário e enfrentando um amanhecer de cada vez. A
tranquilidade de ser eu mesma, sem apreensão ou amarras. A troca das três
palavras por “sub-sinônimos” como “te adoro” ou “eu gosto muito, muito de ti”. A
criação de neologismos estranhos para escrever um texto inteiro dedicado ao que
precede, porque a frase está na ponta da língua, mas ainda não foi dita. A
gente é diferente quando sente, por isso a troca das três palavras por algo
parecido. Aquilo que eu sinto por você parece ser maior, e tem sido uma delícia
apreciar o que precede.
