Esticada
no colchão feito uma estrela-do-mar, eu tentava encaixar as quatro quinas do
lençol de elástico, após ter falhado miseravelmente ao tentar vestir uma ponta
de cada vez. A cena era tão vergonhosa quanto cômica, mas por sorte eu era
observada, no máximo, pelas formigas que de forma astuta sobem e descem as
paredes do apartamento. É possível fazer muitas posições sedutoras em cima de
uma cama, mas a posição estrela-do-mar certamente não está no kama sutra.
Foi
naquela briga vexatória com o lençol de cama que caí em mais um buraco negro de
reflexões aleatórias e estapafúrdias, típicas de uma mente ansiosa que se
movimenta na velocidade da luz. A verdade é que, com base em uma pesquisa
empírica cujo espaço amostral foi cuidadosamente delimitado, minha hipótese foi
confirmada: ninguém sabe dobrar lençol de elástico.
Nesse
momento, provavelmente algum leitor bem confiante deu de ombros e pensou que
sabe, sim. É exatamente aí que eu afirmo – sem medo de errar – que ninguém sabe
dobrar lençol de elástico. Não com perfeição, pontinha com pontinha, sem deixar
qualquer vestígio de fingimento daqueles que a gente faz de conta que cumpriu a
tarefa direito, quando na verdade só entregou por entregar.
Quando
chega o humilhante momento de encaixar o lençol no colchão, a sensação é a de
resolver um cubo mágico pulando de para-quedas: até que é possível, mas é coisa
de maluco. Uma tarefa doméstica tão simples, gastando tantas linhas em uma crônica
debochada? Inevitável para quem vive de metáforas banais.
A
gente até consegue encaixar três pontas do lençol, mas fica aquela quarta
solta, enquanto a gente sobe no colchão e se estica como uma lagartixa pra
alcançar o outro vértice com a pontinha da mão, aí o canto do pé esquerdo, que
estava encaixado, se solta subversivamente, como quem se recusa a cumprir uma
ordem simples.
É
como tentar equilibrar todos os cenários da vida: enquanto vai tudo bem com as
amizades, o trabalho e a vida amorosa, a alimentação e a saúde desandam. Daí a
gente tenta arrumar a saúde se matriculando em mais uma daquelas academias de grandes
redes, na esperança de que iremos frequentar quatro vezes por semana, beber
três litros de água por dia e comer besteira só de vez em quando. Só que, na
verdade, a gente acaba virando sócio oculto das redes de academia (oculto mesmo,
com a frequência zerada e a mensalidade debitando todo final de mês), o tempo
no transporte público atrapalha o preparo das marmitas semanais e a gente desiste
de beber três litros de água por dia porque é um saco ir ao banheiro mil vezes a
cada turno. Sobra tudo para o delivery e para a coca zero, porque essa idade
chega para todos.
Mas
é preciso meditar, pra colocar a cabeça em ordem; pegar sol, para não faltar
vitamina D; ouvir as notícias de um mundo trágico em frangalhos, para não
ficarmos alienados; cuidar da pele, para atenuar as marcas do tempo no futuro;
colocar botox preventivo, para evitar as linhas de expressão; manter a casa
limpa e arrumada, mesmo passando dezessete horas por dia na rua em dias úteis;
economizar com pequenos gastos, para poder fazer grandes investimentos em
azeite superfaturado...
Enquanto
isso, ainda jogada na cama como uma estrela-do-mar, lembrei que toda essa
ladainha era só sobre lençóis, mas acabei desviando a rota para minhas rotineiras
inquietações e costumeiras falhas (como aquela do início dessa prosa, em que toscamente
briguei com um pedaço de tecido). Após um pequeno desabafo não ensaiado, acabei
de lembrar que preciso buscar a roupa na lavanderia, cortando, sem mais nem menos,
qualquer coisa que eu pretendesse dizer aqui. A vida nessa megalópole costuma
ser assim: a gente só sai corren