domingo, 11 de maio de 2014

As Desventuras de Pedro: De Dentro do Bueiro



Episódio 1

Vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana (sem folga nos feriados), todos os dias do mês (incluindo os vigésimos nonos dos fevereiros bissextos), Pedro carrega no bolso uma pitadinha de azar. Não há mistagogia que explique o quiproquó que dimana da vida de Pedro, só pode ser sortilégio (ou coisa pior). As histórias de azar de Pedro são improváveis, quiçá impossíveis, coisas que nos fazem assumir a postura de Tomé: “só acredito vendo”.
Preconizo o pobre garoto e convido os caros leitores a inquirir quais os motivos que levam um ser tão inóquo a ter uma gama deveras diversificada de histórias inebriadas de azar.
Depois de um dia cansativo, nosso queridíssimo protagonista finalmente saiu da aula. O dia nublado transformou-se em chuva torrencial e o horário obrigava Pedro a ir embora e tomar um pouco de chuva. A rua alagada implorou que Pedro metesse o pé na água, a fim de alcançar seu carro. Colocou o pé esquerdo e subitamente, sem aviso prévio, deslizou para dentro do bueiro. A chuva gargalhava da cara de Pedro, as pessoas na rua, idem. Dentro do bueiro até a cintura, cheio de água, lama e sabe-se lá mais o quê, Pedro viu-se sem reação.
Nenhuma boa alma prestava socorro ao pobre, até que o reparador de carros, certamente tocado com tamanha falta de sorte, resolveu largar seu guarda-chuva e tentar ajudar o rapaz que carregava, além dos óculos embaçados e molhados, uma nuvem de azar nas costas.
Dentro do carro, encharcado, sujo e com um cheiro pútrido, Pedro resolveu acionar os parabrisas, afinal de contas, chovia (bastante, inclusive). Os parabrisas haviam sumido, escafederam-se. Foi então que a verdade veio à tona: tinham sido roubados. Era absolutamente exequível afirmar que aquele não era o dia de sorte do menino Pedro.
Tudo bem, talvez em alhures a maré mudasse, quem sabe? Talvez fosse a chuva o motivo de tanto mau agouro. Talvez ele não devesse levar em consideração o acontecido em uma perspectiva axial, afinal de contas, celeumas acontecem, não é mesmo?
Comentários
0 Comentários

Nenhum comentário: