Ainda não sei ser matinal, mas já abdico de um hambúrguer por um prato de salada. Escuto as mesmas músicas. Outras também. As mesmas e outras, misturadas, porque sou a construção do que fui e do que tento ser hoje. Ouço a playlist em italiano torcendo para absorver o idioma, porque estou mais longe do que nunca da dupla cidadania. Uma banda semi-pop adolescente, de ritmo que não sei nomear e batidas de curtição em festival, com um copo na mão e um cordão cheio de logomarcas pendurado no pescoço. Nunca fui, vi apenas fotos dos looks arrumados e divulgados para a multidão dos likes.
Agora estou eu, aqui,
colocando-me à prova diante do desconhecido, sem saber direito como agir ou
como falar, porque não sei ser outra coisa senão eu mesma. Com meu jeito
espontâneo, que solta as palavras que estão na ponta da língua, escreve textos
muito mais pelo momento do que pela pessoa, sente o vento fugindo das mãos
enquanto dirige em alta velocidade pela via expressa.
Estou descobrindo como é ser eu,
em todas as minhas nuances, gargalhadas com a arcada dentária escancarada, piadas
ridículas, madrugadas trabalhando, corridas noturnas na praça, terapia semanal,
quadros pintados em uma profusão de cores, roupas escolhidas a dedo para expressar
minha personalidade. Cansei de me conter para caber, quero transbordar meu eu
por onde passar. Imprimir minha digital em todo canto que for, sem medo de
falar demais ou usar muitas cores. Quero ser bem quista pelo que sou, e pelo
que ainda vou descobrir sobre mim, porque, nesse momento, não há alguém mais
importante no mundo do que a mulher que tento resgatar e salvar: eu mesma.
Para onde vou? Não sei, mas
espero voar sem medo das manobras, como Fernão Capelo Gaivota e sua impetuosa
coragem de transcender. Com as raízes levantadas, vou seguir viagem para onde
eu possa ser um vitral de versões minhas que, iluminado pelo sol, promove
efeitos de luzes espetaculares e coloridas. De dentro para fora. A incerteza não
me constrange, porque agora decidi explorar todos os caminhos diante de mim e
sei que sou capaz. Dirigindo em alta velocidade e com a mão esquerda para fora
da janela, não dá pra segurar o vento. Eu sou o vento.
