terça-feira, 17 de janeiro de 2012

"Quando cruza a Ipiranga com a Av. São João"


Terra da garoa para todos, floresta de concreto para os recém chegados, ou Sampa para os mais chegados... Chegados, achegados ou aconchegados. Entender a dinâmica da maior metrópole do Brasil não é nada fácil para quem acabou de chegar.
O som da sinfonia são buzinas impacientes e constantes, o palco é o asfalto e os artistas, de rua. Pintados de prata, ouro ou bronze, estátuas humanas encantam quem passa. Aguentam horas e horas pela sua arte, ou melhor, necessidade.
Destino de muitos, todos cansados de sua rotina depositam em São Paulo a esperança de poder ter mais, ou ser mais. Criam a expectativa de chegar aqui e crescer, conquistar seus objetivos. Chegam e junto vem o espanto de estar na maior cidade do Brasil. O encontro das mais diversas culturas, da Liberdade à Móoca. A cultura oriental interagindo com a italiana e acolhendo a boliviana, a brasileira se forma pelo misto de todas essas. 
Meninas-mulheres crescidas. Pequenas, mas grandes dentro de si. Em sua maioria, estão bem longe de qualquer regrinha básica de etiqueta, elas encantam pelo jeito natural de ser, discretamente deselegantes, como bem traduziu Caetano em sua melodia. Crescem pela necessidade de serem grandes, nem sempre pela vontade. 
Filas e filas, seja pra pegar ônibus, pagar conta, no caixa do supermercado ou tomar uma injeção na testa... é preciso estar sempre armado de boa paciência para enfrentá-las. A pior das filas é a garagem a céu aberto, mais conhecida como engarrafamento. Carros parados andando a um centímetro por minuto. 
Centros comerciais agitados e tentadores, trazem à São Paulo consumidores de todas as áreas e com todos os gostos, o "fim de feira" constante. As luzes que não se apagam, a cidade vive em uma insônia interminável. Essa é minha São Paulo... de todos nós!
Arte no metrô, onde a população pode mostrar seu talento de forma irreverente e descompromissada. Passeios pela Paulista para admirar o que foi feito pelas mãos humanas. Arco-íris e estrelas muitas vezes camuflados no meio de tanta fumaça. Idas ao shopping Cidade Jardim, para passear e nem sequer cogitar a ideia de comprar algo além de um refrigerante. As vielas nas favelas que a muitos encantam, mas trazem consigo sonhos e realidades cruéis. E por aí vai... quer vir pra Sampa? Boa sorte! Mas antes, uma dica: quando quiser fugir do cimento vai pro Ibira!

domingo, 15 de janeiro de 2012

Da série: Primeiro amor - 4




Episódio 4

Dito e feito. Programa marcado, todos no shopping às 19h30, rumo à patinação no gelo. Só faltava chamar o esquisitão. Confesso que escolhemos patinação no gelo por um motivo muito nobre: desincentivá-lo à comparecer no programa, é claro.
Olhando bem para o dito cujo, com aquelas roupas folgadas, munhequeiras estranhas, fones rock'n'roll e cabelo de Curupira (fora o vermelho, o menino não era tão esquisito assim), tínhamos quase certeza de que ele não patinaria no gelo. Não sentiria vontade de ir e inventaria uma desculpinha esfarrapada qualquer para Sophia.
Era sexta, tínhamos marcado encontro na praça de alimentação, em frente à nossa lanchonete preferida. Dudu chegou primeiro, depois eu, Marcos, e assim por diante, até chegar a maioria da turma. Sophia foi uma das últimas a chegar e trouxe consigo uma companhia: Maurício.
Não é que o menino estranho resolveu ir? Talvez Sophi com sua conversa tivesse conseguido convencer aquela estranha criatura de que fazer contato social às vezes poderia ser bom. O preto predominava. Munhequeiras roxas, cabelo desgrenhado (como o de costume), tênis sujo e calças folgadas. E em pensamento eu me perguntava: cadê a senhora sua mãe que te deixa sair assim de casa, critura?
Hora de calçar os patins. Todos ansiosos para desenhar o risco de seus passos no gelo. Entramos na pista e o inesperado aconteceu: Mau sabia patinar. Aliás, humilhava todos nós com tanta habilidade. E Sophia estava mais derretida do que gelo em país tropical, eu não conseguia crer em ambas as coisas.
Desistimos de tentar boicotar o novato e aproveitamos a patinação, já que era o que nos restava fazer. Eram corridas para um lado, trenzinhos para outro, e de vez em quando uma queda cômica para animar o pessoal. Sophi estava distante. Aliás, distante de nós, próxima a ele.
Tudo se acalmou, estávamos estafados de tanto patinar. A pista era grande e tinha uma parte em que faltava iluminação. Típica pista de patinação no gelo de shopping de classe média. Cansamos, sentamos e ficamos alí trocando uma ideia, conversando e rindo, como sempre. Até que demos falta da estrelinha do time: Sophi. Olhamos em volta e não a encontramos. Até que nossos olhos foram para o cantinho escuro da pista de patinação: lá estava ela, com os lábios entrelaçados aos do novato. 
Continua...

Da série: Primeiro amor - 3


Episódio 3

Depois daquele dia, Sophi ficou esquisita. Não era mais a mesma coisa, nem comigo, e nem com o resto do pessoal. Trocávamos cumprimentos educados pela manhã, mas não descíamos mais juntas para o recreio. Puro drama, reconheço. Mas o que seria da adolescência sem as histórias melodramáticas e exageradas? Ah, fazer o quê? Queria ficar de doce, então deixei ficar.
Todos os meninos a quem o cupido presenteou com a flecha de Sophia não eram correspondidos, disso todos já sabem. Agora estavam eles cada vez mais distantes da amada. Sem competição interna, sem jogos de futebol no recreio, sem nada. Sophia estava realmente esquisita, motivo? Nenhum.
Mas uma coisinha reparamos nessa desaproximação: Mau e Sophi estavam cada vez mais amigos. Faziam duplas nos trabalhos, ficavam juntos no intervalo, e até compartilhavam os fones de ouvido. Acreditem! Era a perda de lucidez da Sophia, estava maluca! Eu e mais um ataque melodramático. Ok, ela só estava afastada dos amigos antigos e fazendo amizade com o menino novato, qual o problema?
Acontece que Marquinhos não aguentou o gelo e foi falar com Sophi. Primeira paixãozinha, sabe? Era isso que Sophia era para Marcos, mas tadinho, não recebia o mesmo sentimento em troca. Em troca do amor que ele declarava sentir por Sophia ele recebia algo mais insosso e com menos pimenta: amizade. Ora, me digam o que é pior do que receber amizade em troca de um amor?
Se você ama e a pessoa amada te odeia, é bom. Pelo menos conserva um pouco da emoção. Ela te odeia, ou você provoca para chamar a sua atenção, ou cultiva o mesmo sentimento por ela. Ou os dois né, tem doido pra tudo. 
Mas enfim, chega de lero-lero e vamos voltar ao assunto. Marquinhos não aguentou aquele gelo todo, preferia ter beijos negados do que aquela distância entre ele e a cheia de graça. Foi conversar com a moça.
Começou dizendo que sentia sua falta nos jogos de futebol, depois disse que marcou um gol e dedicou a ela, e assim foi levando a conversa até chegar no dia em que a moça aborreceu-se e abondonou a mesa em que os amigos estavam e... enfim, vocês já sabem a história. Perguntou a ela o que tanto a incomodou no comentário feito por mim.
- Ora Marquito, você sabe bem como sou. Gosto de novas amizades, gosto de conhecer gente nova, qual era o problema em deixar o menino sair conosco? Ele é gente boa, vocês só não deram oportunidade para ele mostrar isso... (Blá blá blá)
Sophia gosta de falar, imagino que Marcos tenha ficado com os ouvidos calejados de tanto escutar aquela menina falando. E como um bom apaixonadinho de escola, lá veio Marcos pedir pra turma deixar o novato sair com a gente. E como quem pedia era Sophia, não restavam dúvidas de que todos concordariam.
Continua...

sábado, 14 de janeiro de 2012

Da série: Primeiro amor - 2



Episódio 2

Maurício não fazia o estilo de menino mais popular da escola, muito menos de artilheiro do time de futebol. Pelo contrário: era um perna-de-pau e ainda por cima, antissocial. Chegava na escola usando fones de ouvido e não os tirava a não ser que fosse pra conversar com Sophi ou com alguém que ele julgasse ser bacana. Na maioria das aulas, dormia. Na educação física só não dizia que estava com cólica porquê seria muito absurdo. E no intervalo raramente descia, preferia ficar na classe escutando aquela gritaria que ele chamava de rock.
Eu e Sophia descíamos e ficávamos com a turma. Quando não estávamos conversando, ela estava jogando bola e eu, provavelmente, lendo algum livro na arquibancada. Eu era amiga da molecada, mas não amiguíssima, compreende? Saía, dava risada, brincava... mas nada que me fizesse ir para o meio da quadra jogar basquete ou tentar acertar a bola no gol. Eu era bastante descoordenada, confesso. 
Os dias passavam devagarinho até chegar o sempre bem-vindo final de semana. Todas as sextas saíamos, não importa pra onde fosse. Era eu, Soph, Dudu, Marquinhos, Lucas... e quem mais fosse convidado. Já era quinta e ainda não sabíamos o que fazer na sexta-feira. Dudu cogitou pizzaria, Marcos queria cinema, PP sugeriu churrasco... calma, Sophia não tinha falado nada ainda? Ela estava com aquela cara de pensativa, até que: 
- Galera, se dessa vez a gente chamasse o novato? Disse ela.
Todos ficaram com cara de ponto de interrogação. Mau não era amigo de quase nenhum dos meninos da turma, nem das namoradas dos que tinham namorada, e muito menos meu amigo. Sophia não conversava muito com ele há alguns dias e... o que ela tinha na cabeça? O menino era estranho e não fazia a mínima questão de ser nosso amigo. Não, não queríamos sair com ele. 
Não por preconceito, nem por nada do gênero. Mas pelo simples fato de não querer. Oras, podíamos não querer. Podíamos simplesmente não ter ido com a cara dele, não éramos obrigados a abrigar na nossa turma todos os novatos sem grupo da escola. Não consegui me conter e disse:
- Sophi, você realmente acha que essa é uma boa ideia?
- Ora, mas por que não? Ela disse.
- Sophi, ele não é nosso amigo, não anda com a gente e nem se esforça minimanente pra se aproximar,  por que tentar se aproximar dele? Você mesma sabe que ele não gosta das mesmas coisa que nós...
- Ai! - rebateu em tom irritadiço - Vocês mal conhecem a pessoa e já querem opinar? Já dizem se ela gosta disso ou daquilo? Pois fiquem sabendo vocês que dessa vez eu não quero sair com vocês!
Sophia se levantou da mesa da cantina em que estávamos e foi embora, sem alguma companhia. Trocamos olhares duvidosos, mas ninguém resolveu quebrar o silêncio.
Continua...

Da série: Primeiro amor


Episódio 1

Quem sou eu pouco importa, de onde vim, menos ainda, e o que faço? Bem, fazer constantemente eu não faço nada, mas de vez em quando me pego fazendo uma coisinha aqui e outra acolá. Por exemplo: agora eu escrevo, conto essa história que tanto gosto, mesmo sendo uma mera coadjuvante da mesma. Entre letras dedilhadas no teclado eu fico me indagando: como vou começar a contar essa história? Não faço a mínima ideia de como apresentar personagens, lugares, etc e tal. Quer saber? Vou fazer como minha mãe fazia quando eu era pequena, começar com aquele velho clichê do "Era uma vez". Pois bem:
Era uma vez uma escola, eu (como todos os outros estudantes) era obrigada a frequentá-la todos os dias úteis da semana. Ia sem a menor vontade, praticamente fincava o corpo na cama e ai de quem tentasse me tirar de lá. Era um chororô danado. Até que eu me dispunha à boa vontade de levantar, me trocar e finalmente ir à (maldita) escola. 
Chegando lá a coisa mudava de figura, aquele doce todo era a mais pura preguiça impregnando o meu corpo. Encontrava aquele menino bonitinho, as patricinhas irritantes, professores chatos e a minha melhor amiga: Sophia, a protagonista. Sophi, Sophi... Encantava todos os garotos com seu jeito meio avoado e suas enormes madeixas castanhas. Um rostinho delicado e decorado de sardinhas sutis. Aqueles olhos enormes e intensos. E o corpo? Ah, esbeltoe curvilíneo. 
Sophia era o sonho de todos os meninos, mas não queria saber de nenhum deles. Dava uns beijinhos aqui e alí, mas nada que saísse das escadas de emergência da escola ou das cadeiras acolchoadas do cinema. Marcos, Bruno, Dudu, Pedro Paulo... todos vidrados na minha (só minha) melhor amiga.  
Sophia era a típica garota que não pensava duas vezes antes de calçar uma chuteira e se meter no campinho com a molecada. Sabia jogar truco e também entendia de carros. E além disso, não deixava de ser uma mocinha encantadora que não abria mão de um bom rímel para ressaltar o olhar e um blush para deixar as bochechas mais coradas.
Já estávamos na metade do primeiro semestre quando aquele aluno novo entrou. Era aula de biologia, aula da professora Samantha. Já tínhamos terminado o estudo sobre o reino Animalia e a professora iniciava a explicação sobre botânica quando o menino novo bateu na porta e pediu pra entrar. Estava atrasado e a prof fez cara de quem não gostou do atraso, mas deixou o novato entrar. O dito cujo chegou, foi direto para o fundo da sala. Ele era esquisitão, misterioso. Usava um corte de cabelo meio arrepiado, sabe? O cabelo era tão grande que chegava até a esconder um pouco os olhos. 
Sophia me olhou com aquela cara que eu bem conhecia, estava transbordando de curiosidade. É claro, quem não imaginaria aquela maluca doidinha pra conhecer melhor o menino novo? Simpática como só ela sabia ser, foi lá falar com o esquisitão. Entre perguntas, piadinhas e risadas, Sophia tinha feito mais um amigo novo: o Maurício, vulgo Mau.
Continua...

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Imutáveis




Imagine alguém sentado na beira da estrada, assistindo o movimento dos carros. Vê carros indo e vindo, lugares diferentes, destinos incertos, mas eles se movem, continuam se movendo sem nunca parar. Passa um moço em uma bicicleta, outro montado em um cavalo, são bem mais lentos que os carros, mas continuam se movendo. E os olhos que assistem tudo isso continuam lá, imóveis.
Imagine então uma pessoa olhando pela janela, observando a dança das ruas, o movimento das pernas e ouvindo o ruído de vozes aleatórias. Essa pessoa não sai da janela, apenas olha, observa. Ela fica alí por horas e horas, não se sabe se ela está cansada de olhar, a única coisa que sabemos é que ela está alí há muito, muito tempo.
Assim vejo as pessoas que não evoluem, não saem do lugar. Apenas observam o que acontece, sem avançar ou retroceder. Estes para mim são os imutáveis. Não sentem vontade de subir se quer um degrau na vida, avançar um metro ou apenas levantar da beira da estrada e seguir seu caminho, caminhando. Não importa quão lenta seja a evolução, o que importa é evoluir.
Vejo pessoas que desde que as conheci são da forma que são. Falam da mesma maneira, têm as mesmas coisas, as conversas são as mesmas... não reconheço nenhum sinal, por menor que seja, de terem evoluído.
E também reparo naquelas pessoas que correm atrás. Podem estar na estrada sem carro, cavalo ou bicicleta, mas querem chegar logo ao seu destino, por isso correm. Cansam? Claro que sim, nenhum pulmão é bom o bastante para correr constantemente. Mas essas pessoas têm força de vontade o suficiente para continuar correndo atrás dos seus objetivos. Elas abandonam a janela, descem as escadas sem cansar nem tropeçar e vão para fora. Não querem ser os olhos que observam a imagem e a moldura, querem ser a imagem alí presente. Sentem a necessidade de participar da sincronia das ruas e não têm vergonha de esconder a sua insatisfação com a zona de conforto.
Realmente, no meio de uma corrida para o sucesso podem haver tropeços, e convenhamos: é muito mais confortável continuar acomodado e apenas observar a pessoa caindo (e criticá-la), do que estar com os joelhos ralados e ter que continuar andando.
Os imutáveis normalmente fazem questão de parecer coitados aos que os rodeiam. Coitados por não ter, ou não ser. Mas esses não se esforçam minimamente para conquistar algo, esperam que o vento da estrada traga ao acaso algo que lhes agrade. Se vier, é bom, se não, o jeito é reclamar e continuar esperando pela sorte.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Álbum de recordações


Rever fotos antigas é algo que todos fazem, inclusive eu. Vira uma página, volta duas, e assim vou seguindo na minha atividade: gerar saudade. Entre uma página e outra eu encontro aquele tio de quem não lembro o nome ou aquela tia chata que apertava minhas bochechas e perguntava: e aí, já virou mocinha? Eu sempre ficava irritada (apesar de não demonstrar), eu era a típica menina que tinha todas as Barbies de todas as coleções, e nem pensava em trocá-las por soutiens e absorventes.
Ah! Que delícia era a minha rotina: acordar, brincar, correr, pular, dançar, passear e estudar. Até ir pra escola se tornava divertido naquelas condições. Lembro-me de mim pequenininha, magricela e cabeluda. A minha única obrigação era ser uma criança feliz, independente de como eu fizesse isso. 
As tardes de segunda, quarta e sexta-feira eram as minhas favoritas. Eram os dias em que eu fazia o meu coque (meio torto, mas eu já me sentia grandinha o suficiente para fazê-lo), vestia minha meia-calça cor-de-rosa, collant e colocava as sapatilhas na maleta, destino: aulas de ballet. Adorava! Girava, saltava, dançava conforme a música e também conforme o coração. Uma menina cheia de sonhos, com um estoque de sapatilhas e uma agenda de apresentações de natal.
Havia também as aulas de violino e os dias de concerto. Era hora de colocar a camisa branca e a sainha preta e me sentir uma musicista nata. Os ensaios do grupinho de flauta e no final do ano, do coral natalino. As apresentações gigantescas e em vários lugares da cidade. Eu me sentia uma verdadeira celebridade.
Adorava viajar, principalmente quando o destino era a praia. Aquela água que ia e vinha me deixava totalmente intrigada, ela era cheia de ondas com espumas branquinhas. Eu era uma artista muito bem preparada, fazia castelos de areia como ninguém. E no final do dia, com toda aquela areia eu praticamente me transformava em uma miniatura de menina à milanesa.
Os almoços na casa do vovô e da vovó, e os passeios na praça com o titio. Os clássicos da Disney eram assistidos até a fita VHS não aguentar mais rodar os mesmos filmes. O meu preferido era "A Branca de Neve", o apelido é usado pelo meu avô até os dias de hoje, uma maneira de me sentir aquela garotinha novamente. E quanto o filme terminava, era hora de rebobinar e começar tudo outra vez.
Minha casa, como o clichê indica: o melhor lugar do mundo. A casinha de madeira colorida no quintal, meu conjuntinho de mesas e cadeiras cor-de-rosa, meu balanço e minha gangorra. Sem contar com a minha bicicleta e todos os outros brinquedos que toda criança gostaria de ter, além da felicidade de não ter preocupações de gente grande. Uma criança que gostava de ser criança, e queria ser como Peter Pan, eternizar a infância em todas as fases da vida.
Adorava todos os meus cachorros, mas havia uma que era especial: a Kim. Não houve e não haverá no mundo um cachorro que seja se quer parecido com ela. Brincava de pega-pega, esconde-esconde, todas as brincadeiras propostas a ela eram aceitas. Kim era guardiã, amiga, companheira e brincalhona. Tomava banho de chuva e subia as escadas da minha casinha de madeira como se fosse um ser humano. Chegar em casa era a maior alegria, ela me enchia de lambidas inebriadas de cumplicidade. Sem falar todas as peripércias que já fizemos juntas, segredo nosso!
Queria eu que existisse uma máquina do tempo, ou qualquer outra maneira de voltar ao passado e matar todas as saudades. Um jeito de estravasar essa angústia gigantesca que hoje eu sinto ao lembrar daquela felicidade, e saber que como era, nunca será novamente. Quiçá um dia eu possa proporcionar aos meus filhos uma infância como a minha, e que eles possam lembrar dela da mesma forma que eu lembro de como era ser criança: cheia de lágrimas nos olhos, por saber que tive a melhor infância do mundo.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Tudo novo, de novo

Ele começou, o tão esperado chegou. Demos as boas-vindas de branco, azul, amarelo, verde, vermelho, rosa... multicoloridos de aspirações positivas. Chegamos ao final de cada ano saturados daquela rotina massacrante de desejar e não ser atendidos, sonhar e não realizar. Mas além desse gosto amargo que nossas papilas gustativas são obrigadas a saturar, o final de ano nos tráz esperanças mais verdinhas que as folhas da primavera. O otimismo entra sem ao menos tocar a campainha ou bater na porta. Nem convidado é, mas não se importa com regras de etiqueta, invade mesmo assim. 
Descarregamos as nossas expectativas em cima do recém nascido, neste caso, o nomeado "Dois Miledoze". Ele vem novinho, e já carrega uma carga pesada de obrigações: satisfazer as especulações alheias. E se não o faz, oh! Coitado, é xingado e maldito até adormecer, quando o seu sucessor chegará.
Trabalhamos arduamente para dar tudo certo no dia trinta e um de dezembro. Há aqueles que procuram dias e dias pela roupa ideal, e que seja possível transmitir através dela seus desejos para o ano que vai nascer. 
Outros preferem depositar as esperanças na comida, fazem simpatias e ainda aproveitam uma boa comilança. Entre tantos outros, tem aqueles que simplesmente cruzam os dedinhos e torcem para tudo dar certo, sem muitas forças para acreditar que o ano que chega será diferente. 
Tudo foi muito bem preparado para a chegada dele, sua missão é fazer jus a toda a confiança nele depositada. "Caminhando e cantando e seguindo a canção", é assim que iremos percorrer os novos caminhos traçados por dois mil e doze. Esperamos que os caminhos sejam floridos, e as canções a serem cantadas, agradáveis e contagiantes, para que os que não cantam saiam da melancolia e possam caminhar conosco. 
Ele chegou, não está com uma aparência muito atrativa para depositar todas as apostas. Apesar disso somos como aqueles que jogam na Mega Sena todas as semanas, com uma esperançazinha de ser o próximo milionário do país. Portanto, 2012, traga consigo não só o que corresponda às expectativas pequeninas de alguns, mas sim algo que surpreenda à todos. Para os que esperam muito, sejam correspondidos, e os que pouco esperam, surpreendidos. Estamos aqui depois de anos de experiência, tudo novo está, de novo.