domingo, 15 de janeiro de 2012

Da série: Primeiro amor - 4




Episódio 4

Dito e feito. Programa marcado, todos no shopping às 19h30, rumo à patinação no gelo. Só faltava chamar o esquisitão. Confesso que escolhemos patinação no gelo por um motivo muito nobre: desincentivá-lo à comparecer no programa, é claro.
Olhando bem para o dito cujo, com aquelas roupas folgadas, munhequeiras estranhas, fones rock'n'roll e cabelo de Curupira (fora o vermelho, o menino não era tão esquisito assim), tínhamos quase certeza de que ele não patinaria no gelo. Não sentiria vontade de ir e inventaria uma desculpinha esfarrapada qualquer para Sophia.
Era sexta, tínhamos marcado encontro na praça de alimentação, em frente à nossa lanchonete preferida. Dudu chegou primeiro, depois eu, Marcos, e assim por diante, até chegar a maioria da turma. Sophia foi uma das últimas a chegar e trouxe consigo uma companhia: Maurício.
Não é que o menino estranho resolveu ir? Talvez Sophi com sua conversa tivesse conseguido convencer aquela estranha criatura de que fazer contato social às vezes poderia ser bom. O preto predominava. Munhequeiras roxas, cabelo desgrenhado (como o de costume), tênis sujo e calças folgadas. E em pensamento eu me perguntava: cadê a senhora sua mãe que te deixa sair assim de casa, critura?
Hora de calçar os patins. Todos ansiosos para desenhar o risco de seus passos no gelo. Entramos na pista e o inesperado aconteceu: Mau sabia patinar. Aliás, humilhava todos nós com tanta habilidade. E Sophia estava mais derretida do que gelo em país tropical, eu não conseguia crer em ambas as coisas.
Desistimos de tentar boicotar o novato e aproveitamos a patinação, já que era o que nos restava fazer. Eram corridas para um lado, trenzinhos para outro, e de vez em quando uma queda cômica para animar o pessoal. Sophi estava distante. Aliás, distante de nós, próxima a ele.
Tudo se acalmou, estávamos estafados de tanto patinar. A pista era grande e tinha uma parte em que faltava iluminação. Típica pista de patinação no gelo de shopping de classe média. Cansamos, sentamos e ficamos alí trocando uma ideia, conversando e rindo, como sempre. Até que demos falta da estrelinha do time: Sophi. Olhamos em volta e não a encontramos. Até que nossos olhos foram para o cantinho escuro da pista de patinação: lá estava ela, com os lábios entrelaçados aos do novato. 
Continua...
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