Imagine alguém sentado na beira da estrada, assistindo o movimento dos carros. Vê carros indo e vindo, lugares diferentes, destinos incertos, mas eles se movem, continuam se movendo sem nunca parar. Passa um moço em uma bicicleta, outro montado em um cavalo, são bem mais lentos que os carros, mas continuam se movendo. E os olhos que assistem tudo isso continuam lá, imóveis.
Imagine então uma pessoa olhando pela janela, observando a dança das ruas, o movimento das pernas e ouvindo o ruído de vozes aleatórias. Essa pessoa não sai da janela, apenas olha, observa. Ela fica alí por horas e horas, não se sabe se ela está cansada de olhar, a única coisa que sabemos é que ela está alí há muito, muito tempo.
Assim vejo as pessoas que não evoluem, não saem do lugar. Apenas observam o que acontece, sem avançar ou retroceder. Estes para mim são os imutáveis. Não sentem vontade de subir se quer um degrau na vida, avançar um metro ou apenas levantar da beira da estrada e seguir seu caminho, caminhando. Não importa quão lenta seja a evolução, o que importa é evoluir.
Vejo pessoas que desde que as conheci são da forma que são. Falam da mesma maneira, têm as mesmas coisas, as conversas são as mesmas... não reconheço nenhum sinal, por menor que seja, de terem evoluído.
E também reparo naquelas pessoas que correm atrás. Podem estar na estrada sem carro, cavalo ou bicicleta, mas querem chegar logo ao seu destino, por isso correm. Cansam? Claro que sim, nenhum pulmão é bom o bastante para correr constantemente. Mas essas pessoas têm força de vontade o suficiente para continuar correndo atrás dos seus objetivos. Elas abandonam a janela, descem as escadas sem cansar nem tropeçar e vão para fora. Não querem ser os olhos que observam a imagem e a moldura, querem ser a imagem alí presente. Sentem a necessidade de participar da sincronia das ruas e não têm vergonha de esconder a sua insatisfação com a zona de conforto.
Realmente, no meio de uma corrida para o sucesso podem haver tropeços, e convenhamos: é muito mais confortável continuar acomodado e apenas observar a pessoa caindo (e criticá-la), do que estar com os joelhos ralados e ter que continuar andando.
Os imutáveis normalmente fazem questão de parecer coitados aos que os rodeiam. Coitados por não ter, ou não ser. Mas esses não se esforçam minimamente para conquistar algo, esperam que o vento da estrada traga ao acaso algo que lhes agrade. Se vier, é bom, se não, o jeito é reclamar e continuar esperando pela sorte.
